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Vivian Mesquita

Apresentadora, Repórter e Editora Chefe Executiva com passagens pela Editora Abril, Rede Globo e Canais ESPN Disney. Especialista em esportes de ação em mercado mundial. Profissional com formação consolidada na área de mídia e conteúdo esportivo, com mais de 20 anos de experiência em TV. Relacionamento sólido com a comunidade criativa local, produtoras, talentos, atletas, marcas e mídia. Habilidades em gestão de equipes, processos organizacionais e comunicação. Apresentadora do ICL Notícias - 1ª Edição.

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Direito ao aborto. Ou você suportaria ficar mais um pouquinho?

Urgente é proteger e amparar as 20 mil mulheres e meninas grávidas no Brasil vítimas de estupro
14/06/2024 | 06h27

Eu tenho uma mania de tentar entender o incompreensível. Aí eu perco o sono. Minha mãe diz que não durmo o suficiente. Ela tem razão. “Estou exausta e não vou me desculpar”, essa coluna tem sete meses. E eu continuo exausta.

A gente brinca no ICL Notícias — 1ª Edição que eu sou a otimista da turma. Sou mesmo. Só que, ultimamente, sou menos. A exaustão é mental. Às vezes acho que minha cabeça vai derreter. Tento silenciar para não fazer tantas perguntas, mas minha mente é teimosa.

Ontem eu paralisei. Conversei com o universo buscando um sinal. O que está acontecendo com a gente? “O conto da aia” — romance distópico de Margaret Atwood — está ali na esquina? É isso?

O livro de Atwood também virou série de streaming (aviso de spoiler). O cenário é a república de Gilead, que já foi, no passado, os Estados Unidos. Não há imprensa, livros e filmes. As universidades foram extintas. Os cidadãos considerados criminosos são executados pela polícia e pendurados em praça pública. Ninguém tem direito a defesa, advogados ali já não existem.

Sabem quem são as maiores vítimas desse Estado teocrático? As mulheres. Em Gilead elas não têm direito algum. São divididas em categorias. As jovens e saudáveis pertencem ao governo com a função específica de procriar. O livro é de 1985 e a série foi lançada em 2017. Um ano depois, Bolsonaro foi eleito e o Brasil, para mim, flertou com Gilead. Isso deixou um legado.

A Câmara dos Deputados votou na quarta-feira, em apenas 24 segundos, a urgência do texto que equipara o aborto ao homicídio, o PL1904. Para que tanta pressa se ainda não há sequer data para colocar o texto em plenário?

A urgência é sequestrar o tema politicamente. Sequestrar um direito nosso, das mulheres, e usá-lo com foco nas eleições municipais e na sucessão dos presidentes da Câmara e do Senado. Pauta de costumes!

Qual a urgência desse texto? Urgente é proteger e amparar as 20 mil mulheres e meninas grávidas no Brasil vítimas de estupro. O país registra apenas 2 mil abortos legais por ano. Urgente, é saber o que acontece com as outras 18 mil mulheres e meninas!

“Suportaria ficar mais um pouquinho”? Em 2022, em Santa Catarina, uma menina de 11 anos, grávida de 22 semanas de um estuprador, ouviu essa pergunta de uma juíza que tentava convencê-la a manter a gravidez.

Vinte e quatro segundos de votação. O Congresso Nacional deixou claro que neste país, para aqueles deputados que apoiam o projeto de lei, nós, mulheres e meninas, não temos nenhum direito ao nosso próprio corpo, nem quando esse corpo é violado.

O Congresso mostrou que — no jogo político — vale até sequestrar a infância e a vida de meninas de 10, 11, 12 anos. A maioria dos casos de gravidez decorrente de estupro acontece com crianças e adolescentes dentro de suas casas. Esse texto pode ser chamado também de projeto da gravidez infantil!

Mas e se fossem as filhas, companheiras ou irmãs desses parlamentares? ‘’Suportaria ficar mais um pouquinho”?

 

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