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Como o Brasil se prepara para reagir ao efeito Trump na economia

Brasil tem buscado se fortalecer por meio de parcerias com outros países e em fóruns internacionais
20/01/2025 | 15h48

Recém-empossado para o seu segundo mandato na presidência dos Estados Unidos, nesta segunda-feira (20), o republicano Donald Trump vem prometendo um tarifaço contra diversos países, incluindo o Brasil. Algumas vezes, o bilionário citou que o Brasil como um dos países que mais aplicam altas tarifas sobre produtos americanos.

Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Levantamento recente da Amcham Brasil (Câmara Americana de Comércio para o Brasil) mostra que as exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024 atingiram a marca recorde de US$ 40,3 bilhões, uma elevação de 9,2% sobre o ano anterior.

O volume exportado também alcançou níveis inéditos, com a venda aos Estados Unidos de 40,7 milhões de toneladas em produtos, representando aumento de 9,9% sobre 2023.

A indústria brasileira registrou um recorde de US$ 31,6 bilhões em suas vendas aos EUA em 2024, um incremento de 5,8% em relação a 2023. Dentre os produtos, os industriais representaram 78,3% de todas as exportações brasileiras para lá, consolidando o país como o principal destino das vendas desse setor pelo nono ano consecutivo.

Se o protecionismo prometido por Trump for mesmo posto em prática, o Brasil deve se cercar de outros parceiros globais, como a China, o maior parceiro comercial do Brasil e principal alvo de Trump.

Será que tarifaço de Trump afetará o Brasil?

Durante a campanha eleitoral, Trump propôs tarifas mínimas de 10% a 20% sobre todos os bens importados e de 60% ou mais para os provenientes da China. Resta saber se a oratória será mais feroz que a prática.

Diante da ameaça do republicano, o acordo entre Mercosul e União Europeia, que teve empenho pessoal do presidente Lula (PT), não podia ter saído em melhor hora. Depois de mais de duas décadas, o pacto foi selado em dezembro passado. O acordo é considerado um primeiro passo fundamental na estratégia do Brasil de unir forças com outras nações também ameaçadas.

Além disso, o Brasil, que liderou o G20 (fórum internacional que reúne as 19 maiores economias do mudo, mais União Europeia e União Africana) em 2024, assume neste ano o Brics, grupo de países emergentes que discute alternativas para incrementar o comércio internacional, incluindo uma moeda alternativa ao dólar, ideia que irritou Trump.

O Brasil também sediará, neste ano, em Belém, no Pará, a COP30, a conferência das Nações Unidas sobre o clima.

Portanto, o Brasil pretende se organizar nesses fóruns internacionais, aproveitando-se de sua posição de liderança, e mostrar que o Brasil está aberto à “nova globalização”, com os dois pés fincados na democracia, nos direitos humanos e a preocupação com o meio ambiente, temas sobre os quais Trump tem uma posição contrária.

Especialistas lembram que o Brasil já sofreu com a guerra comercial de Trump na primeira passagem dele pela Casa Branca (2017-2021).

Agora, porém, os desafios são maiores, uma vez que Trump volta mais forte, com maioria no Congresso e o apoio em peso das big techs, essenciais para a disseminação dos discursos de ódio promovidos pela extrema direita.

Alckmin prevê parcerias com Trump

Em entrevista à edição de ontem (19) ao jornal Valor Econômico, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, enfatizou que o Brasil é uma “solução” e não um “problema” para os Estados Unidos no comércio bilateral. Alckmin destacou que o Brasil compra mais dos Estados Unidos do que vende, fortalecendo as relações entre os países.

“Somos solução para eles. Os Estados Unidos são o maior investidor no Brasil, é uma amizade de 200 anos. É um ganha-ganha”, afirmou o ministro, reforçando que o fluxo comercial entre as duas nações alcançou quase US$ 80 bilhões no último ano, com superávit favorável aos norte-americanos.

Alckmin também avaliou que, mesmo com declarações críticas de Trump em dezembro, o Brasil tem uma balança comercial diversificada e oportunidades de crescimento em setores estratégicos como inteligência artificial, energia renovável, minerais críticos e semicondutores. “Temos uma avenida de possibilidades de parceria”, disse.

Ele também destacou o papel do presidente Lula, que tem experiência em lidar com governos republicanos, como o de George W. Bush. “O presidente Lula é um homem do diálogo. Já governou com o Partido Republicano e teve uma boa relação”, disse, reforçando a importância de separar questões partidárias das relações de Estado.

 

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