Viralizaram nas redes sociais recentemente vídeos mostrando descarte de alimentos por parte de agricultores, com legendas indignadas, não só pelo descarte em si, mas como se essa fosse a razão para a disparada dos preços dos alimentos. Dias depois, descobriu-se que se tratavam de vídeos antigos, como mostra reportagem do g1.
Os vídeos foram comentados pela economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna, na edição da quinta-feira (20) do programa. O descarte de alimentos, segundo a economista, não deveria, mas é bastante corriqueiro por parte de agricultores rurais.
“Embora no vídeo tenha uma pessoa dizendo ‘nunca vi uma coisa dessa’, isso é muito comum (…). A pessoa que diz isso [no vídeo] está tentando dar a entender que o governo federal precisaria tomar alguma atitude para que não tivesse descarte de alimentos, mas isso não faz sentido nenhum. Por que o governo federal, que vem enfrentando uma dificuldade em combater preço de alimentos, incentivaria qualquer atitude dessa?”, questionou Deborah.
Embora o conteúdo dos vídeos com descarte de alimentos, como frutas e cebolas, cause indignação, a prática no meio rural, segundo Deborah, é razoavelmente comum.
“O excedente que não é vendido muitas vezes ocorre o descarte, principalmente de alimentos mais perecíveis, porque, para vender aquele produto excedente, quando o valor não cobre nem os custos logísticos daquela produção, normalmente a parte que não é vendida é descartada”, disse.
Na opinião dela, seria necessário pensar em outras formas de lidar com o problema. “Esse tipo de cena, por mais chocante que seja, é muito comum por parte deles (…) Não são os grandes produtores – temos que ter um pouco de cuidado ao comentar isso. Mas será que não teria outra alternativa para comprar esses excedentes?”, pontuou.
A menor oferta de produtos alimentícios, como o tomate e a cenoura, explicam a alta da inflação dos alimentos apurada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) de janeiro.
Em janeiro de 2025, o IPCA recuou para 0,16% a menor taxa para um mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1994. No entanto, o grupo alimentos e bebidas subiu 0,96% no mês, representando impacto de 0,21 ponto percentual (p.p.) na inflação.
Em entrevista ao ICL Notícias 1ª edição de sexta-feira passada (21), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo pretende fazer planos safras “cada vez mais robustos” para ajudar na produção de alimentos e, consequentemente, combater a inflação que mais pesa no bolso do brasileiro mais pobre.
“A primeira providência [para combater a inflação de alimentos] que estamos tomando é fazer planos safras cada vez mais robustos, maiores e melhores. Neste terceiro ano do governo Lula, estamos preparando o terceiro Plano Safra. Batemos dois recordes em 2023 e 2024. Queremos fazer o mesmo em 2025″, afirmou.
Descarte de alimentos: a manipulação de imagens
Os vídeos mostrados nas redes sociais contêm legendas e comentários indignados, como se tratassem de cenas recentes, mas não são. Uma das imagens mostra, por exemplo, produtores jogando leite em uma estrada de asfalto. A imagem é de um protesto realizado em setembro de 2023, em Frederico Westphalen, no Rio Grande do Sul.
A reportagem do g1 verificou que muitos dos vídeos mais frequentemente compartilhados foram feitos em 2023 e 2024, e não nos últimos dias. Alguns deles já tinham circulado no fim do ano passado, em postagens com teor semelhante.
Ainda de acordo com a reportagem, os descartes de alimentos acontecem em regiões determinadas, como Irecê, na Bahia. Especialistas ouvidos pelo g1 dizem que se tratam de situações pontuais e que, por essa razão, não poderiam ter efeito no preço de um produto para todo o país.
“Para impactar o preço nacional teria que ser massivo e uma conjunção de muitos produtores e muitos produtos”, disse Aniela Carrara, pesquisadora do Cepea-USP (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq/USP).
Alimentos como tomate e cebola, que aparecem sendo descartados em vídeos de meados de 2024, terminaram aquele ano com queda nos preços, por exemplo. Ou seja, como explicou Deborah, não faz sentido atrelar esse tipo de produto, com preços em queda, à alta de inflação.
Também como explicou a economista do ICL, o cultivo de hortaliças está centralizado em médios e pequenos produtores e é mais suscetível às variações do clima. Por isso, seus preços também costumam variar ao longo do ano. “Quando o produtor descarta, ele não consegue retomar nem o custo que ele teve com a plantação. Significa prejuízo”, completou a especialista do Cepea-USP.
Assista ao comentário de Deborah Magagna no vídeo abaixo:
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