O recente aumento da taxa básica de juros, a Selic, que passou de 12,25% para 13,25% ao ano, vai fazer a economia brasileira crescer menos neste ano, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. “A taxa de juros no Brasil já está no patamar restritivo, já está no patamar que desacelera a economia. Nós estamos prevendo este ano uma redução do crescimento da atividade econômica de 3,5% para algo em torno de 2,5%, justamente para acomodar as pressões inflacionárias”, disse Haddad, durante entrevista à Rede TV! na quinta-feira (30).
Ao ser questionado sobre uma eventual revisão da projeção do PIB (Produto Interno Bruto) para 2%, Haddad negou a possibilidade. “Eu não quero revisar para 2%, porque eu acredito que temos espaço para crescer 2,5%, reduzindo a inflação”, afirmou.
Na primeira reunião presidida por Gabriel Galípolo, indicado à presidência do Banco Central pelo presidente Lula (PT), o Copom (Comitê de Política Monetária) do BC anunciou aumento de 1 ponto percentual na taxa básica de juros. O aumento, no entanto, não surpreendeu, pois já estava previsto na ata da reunião de dezembro do colegiado.
O comunicado divulgado com a decisão reafirma ainda que, a se manter o cenário atual de pressões inflacionárias, o Copom pode elevar a Selic novamente em 1 p.p. na reunião de março, elevando a Selic para 14,25%, o mesmo patamar de 2016.
Haddad reconhece cenário econômico mais desafiador este ano: “Ajuste de rota”
O ministro reconheceu que o cenário para a economia em 2025 é mais desafiador do que o enfrentado em 2024, principalmente diante de uma política monetária que pode ser “contraproducente”, segundo o ministro.
“O presidente Lula tem consciência que muitas vezes você tem que fazer um ajuste de rota, e que esse semestre vai ser mais difícil do que os anos anteriores. Mas o que eu reafirmo é o seguinte: se você já está com uma taxa muito restritiva, às vezes o remédio em excesso é contraproducente. Todo remédio tem a dose certa”, enfatizou Haddad.
Sobre o pacote de ajuste de gastos aprovado pelo Congresso no ano passado, com o qual o governo prevê economizar cerca de R$ 70 bilhões neste e no próximo ano, o ministro disse que o governo apresentou medidas para adequar as despesas às regras do arcabouço fiscal.
Segundo ele, a equipe econômica continua a trabalhar com políticas pontuais para conter o crescimento dos gastos. “Estamos trabalhando continuamente em medidas que podem e serão levadas ao presidente da República como rotina. Nós faremos isso como rotina, nós temos até uma secretaria de acompanhamento de políticas públicas para ir corrigindo essas distorções”, afirmou.
Haddad defendeu maior “honestidade intelectual” ao avaliar o trabalho do governo Lula na área fiscal e atacou a atuação dos governos anteriores na economia, citando diretamente dois antecessores no cargo, os ex-ministros Henrique Meirelles e Paulo Guedes.
Haddad alegou que o governo Lula está fazendo sua parte para equilibrar as contas públicas.
“Nós tivemos o governo Temer e o governo Bolsonaro com déficits fiscais muito superiores — mas muito superiores — ao que está sendo observado agora”, afirmou Haddad.
“Havia muita retórica de cuidado com as contas públicas, mas nem o Meirelles, nem o Guedes conseguiram produzir um superávit sustentável das contas públicas.”
Na tarde de quinta-feira o Tesouro Nacional informou que o governo central registrou um déficit primário de R$ 11,032 bilhões em 2024, o equivalente a 0,09% do PIB. A conta exclui quase R$ 32 bilhões em despesas extraordinárias que não serão contabilizadas na apuração da meta fiscal, especialmente os gastos para mitigar efeitos das enchentes no Rio Grande do Sul.
A meta fiscal do governo para 2024 era de resultado primário zero, com tolerância de 0,25 ponto percentual para mais ou para menos. Na prática, o resultado obtido ficou de fato dentro da meta.
“O déficit dos sete anos dos governos Temer e Bolsonaro são déficits que somaram 2% do PIB. Ano passado tivemos um déficit de 0,1%”, pontuou Haddad na entrevista. “Então, passa uma ideia falsa de que estava se cuidando das contas públicas antes e não está se cuidando agora”, acrescentou Haddad.
Em entrevista a jornalistas na véspera (30), o presidente Lula negou que vá reforçar as medidas fiscais este ano. “Não tem outra medida fiscal. Caso se apresente durante o ano a necessidade de fazer alguma coisa, vamos sentar e definir. Mas, se depender de mim, não tem outra medida fiscal nesse país”, disse o presidente, que defendeu o ministro Haddad das críticas feitas pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab.
Inflação de alimentos
Reduzir os preços dos alimentos virou o grande foco do governo Lula este ano. Foi convocada uma força-tarefa para tratar do assunto, devido aos impactos na inflação, o que pesa no bolso principalmente dos mais pobres, que formam, em sua maioria, a base eleitoral do presidente.
A respeito disso, Haddad afirmou que o preço dos produtos deve se estabilizar em função de uma safra recorde e queda do preço do dólar. “Imaginamos que, este ano, em função da safra que vai vir muito boa […] e com uma acomodação do dólar em patamar mais baixo, os preços dos alimentos tendem a se acomodar, ainda que em um patamar elevado.
Trump
Em relação às ameaças de taxação do presidente dos EUA, Donald Trump, sobre produtos importados pelo país, Haddad afirmou que os Estados Unidos não ganham nada se sobretaxarem produtos brasileiros.
“Qual seria o ganho dos Estados Unidos em sobretaxar produtos brasileiros? Não faz o menor sentido, é uma balança equilibrada entre os dois países”, questionou.
“Se ele sobretaxar um país no qual ele importa muito, pode favorecer o Brasil, inclusive, a exportar mais para os Estados Unidos, mas não sabemos ainda qual será essa política comercial”, contemporizou.
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