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O presidente Lula (PT) abordou assuntos econômicos relevantes na quinta-feira (30), como elogios ao presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmando que vai respeitar a independência da autoridade monetária. O tom mais moderado de Lula agradou ao mercado financeiro, contribuindo para que o Ibovespa, principal índice da B3, disparasse quase 3% e o dólar caiu pela nona vez seguida.

Na conversa com jornalistas, no Palácio do Planalto, Lula também falou das contas públicas, a nova elevação da taxa básica de juros, a Selic, na quarta-feira (29), o possível reajuste dos preços do diesel e seus impactos na inflação dos alimentos. O petista também defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

Confira abaixo os principais resumos da conversa de ontem:

Lula elogia Galípolo no BC

O presidente defendeu a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, que elevou a taxa básica de juros, a Selic, de 12,25% para 13,25% ao ano, e indicando que poderá elevá-la no mesmo nível na próxima reunião, em março, se as pressões inflacionárias persistirem. Lula disse que tem “100% de confiança” no trabalho de Gabriel Galípolo, atual presidente do BC.

“Nós temos consciência de que é preciso ter paciência, eu tenho 100% de confiança no trabalho do presidente do Banco Central. Tenho certeza de que ele vai criar condições para entregar ao povo brasileiro uma taxa de juros menor”, afirmou Lula.

O petista ainda reforçou que Galípolo não pode “dar um cavalo de pau” para mudar a política monetária e que a autoridade monetária já havia sinalizado que elevaria os juros nesse patamar.

“O presidente do Banco Central não pode dar um cavalo de pau num mar revolto de uma hora para outra. Já estava praticamente demarcado a necessidade da subida de juros pelo outro presidente [Roberto Campos Neto]. E o Galípolo fez aquilo que ele entendeu que deveria fazer”.

Novas medidas fiscais

“Não tem outra medida fiscal. Se se apresentar durante o ano a necessidade de fazer alguma coisa, nós vamos reunir o governo e discutir. Mas, se depender de mim, não tem outra medida fiscal”, disse Lula, em referência a medidas para reforçar aquelas incluídas no pacote de corte de gastos aprovado pelo Congresso no fim do ano passado.

Segundo Lula, o Orçamento deste ano terá “restrições” a gastos, mas não a investimentos. A peça orçamentária de 2025 ainda precisa ser votada pelo Congresso Nacional.

Para 2025, mesmo com o resultado deficitário até o momento, o governo tem a meta fiscal de déficit zero, considerando a banda inferior prevista no arcabouço fiscal, que permite um déficit de até 0,25% do PIB (Produto Interno Bruto).

Defesa de Haddad

O presidente também defendeu o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em resposta clara à crítica do presidente do PSD, Gilberto Kassab, que o chamou de um “ministro da Fazenda fraco” na quarta-feira (29).

Kassab afirmou que Haddad tem “dificuldade de comandar” e que “não consegue se impor no governo”.

Lula, por sua vez, disse que Kassab foi injusto nas afirmações sobre Haddad e que o considera um “ministro extraordinário”.

O presidente destacou a atuação do ministro da Fazenda na PEC da Transição, na definição do novo arcabouço fiscal (regra que limita o aumento de gastos do governo) e na reforma tributária do consumo. “Só por isso Haddad deveria ser elogiado pelo Kassab”.

Preços do diesel

A respeito do recente reajuste no preço do diesel, sobre o qual Lula foi avisado pela presidente da Petrobras, Magda Chambriard, o petista negou que tenha “autorizado” um aumento do preço do produto.

Ele afirmou que, mesmo que a Petrobras decida por um reajuste, o preço final do diesel na bomba deve ficar abaixo do que era praticado em dezembro de 2022, último mês do governo Jair Bolsonaro (PL).

“Eu não autorizei o aumento do diesel porque, desde o meu primeiro mandato, eu aprendi que quem autoriza o aumento do petróleo e dos derivados de petróleo é a Petrobras, e não o presidente da República”, afirmou.

O último reajuste do diesel aconteceu há mais de um ano, em outubro de 2023. Na ocasião, a estatal elevou o valor médio em R$ 0,25 por litro, passando a cobrar R$ 4,05 o litro.

Preços dos alimentos

Há uma preocupação evidente com o preço do diesel por conta de seu impacto na inflação dos alimentos. O governo montou uma força-tarefa para pensar medidas no sentido de baixar os preços dos alimentos, que tem impactado fortemente a inflação e, principalmente, o bolso dos mais pobres.

O diesel é usado para abastecer caminhões que fazem o transporte de alimentos. Sendo assim, uma alta do produto pode impactar os preços dos alimentos.

Porém, Lula disse que não fara “bravata” para baixar os preços na marra. “Eu não tomarei nenhuma medida daquelas que sejam ‘bravata’. Eu não farei cota [de compras], não colocarei helicóptero para viajar fazenda e prender boi, como foi feito no Plano Cruzado. Não vou estabelecer nada que possa significar o surgimento de mercado paralelo”, disse Lula.

“O que nós precisamos fazer é aumentar a produção de tudo aquilo que a gente produz. Fazer com que a chamada pequena e média agricultura – que são responsáveis pela produção de quase 100% dos alimentos – possa produzir mais. Para isso, a gente precisa fazer mais financiamento, modernizar a produção dessa gente”, seguiu.

Contas públicas

Lula afirmou que o país teve um déficit primário (quando as despesas do governo são maiores que as receitas) equivalente a 0,1% do PIB (Produto Interno Bruto) do país em 2024. O resultado é próximo à meta fiscal do governo, de ter um rombo zero nas contas públicas.

Na véspera, o Tesouro Nacional divulgou que as contas do governo central (Tesouro, Previdência Social e Banco Central) encerraram 2024 com déficit primário de R$ 43,004 bilhões (0,36% do PIB). O valor representa queda real (descontada a inflação) de 81,7% em relação a 2023, quando o déficit primário tinha ficado em R$ 228,499 bilhões, puxado pelo pagamento de precatórios atrasados. O resultado veio melhor que o esperado pelas instituições financeiras.

Trump e as tarifas dos EUA

A respeito das ameaças do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas a países do Brics (Brasil, Rússia, China, Índia e África do Sul), Lula afirmou que se os americanos decidirem taxar o Brasil, vai ter reciprocidade. “Se ele taxar os produtos brasileiros, haverá reciprocidade no Brasil em taxar os produtos que são importados dos EUA”, afirmou.

“Ele só tem que respeitar a soberania dos outros países. Ele foi eleito para governar os EUA. Outros presidentes [são] eleitos para governar com outros países”, prosseguiu.

Em 2018, em seu primeiro mandato, Trump chegou a anunciar a criação de taxas para a importação de aço e alumínio, dois dos produtos que estão no rol de exportações brasileiras para os norte-americanos. Pouco tempo depois, os países negociaram um esquema de cotas de importação, que permitiam a venda dos produtos com isenção ou redução de tarifa até um determinado limite.

 

 

 

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