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Haddad vê mercado ‘mais tenso’ e critica negacionismo sobre déficit de 2015 a 2022

"As pessoas estão com mais dedo no gatilho, esperando uma notícia para agir, para se proteger ou especular", afirmou o ministro da Fazenda
25/02/2025 | 13h23
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A diferença de tratamento do mercado financeiro e da grande mídia com o governo do presidente Lula (PT) em relação aos governantes mais alinhados com o campo da direita tem sido constantemente abordada pelo ICL (Instituto Conhecimento Liberta). De modo um pouco mais comedido, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deu sua opinião sobre o tema.

Durante apresentação no CEO Conference 2025, organizado pelo BTG Pactual, nesta terça-feira (25), Haddad comentou que o mercado financeiro está “muito mais tenso” do que antigamente, ao ser questionado sobre o turbilhão vivido no fim do ano passado com o nervosismo disseminado que fez o dólar disparar.

“As pessoas estão com mais dedo no gatilho, esperando uma notícia para agir, para se proteger ou especular”, afirmou Haddad.

Porém, o ministro avaliou que “as coisas estão se acomodando”, embora tenha reconhecido que o Brasil viveu um “deslocamento maior” das incertezas em dezembro, com a disparada do dólar e a fuga de recursos.

Em 2024, o real foi a moeda que mais desvalorizou frente ao dólar por uma série de razões. Entre elas estava a desconfiança do mercado financeiro com o pacote de contenção de gastos do governo. Em dezembro passado, a divisa chegou a bater na casa dos R$ 6,30.

Agora, no entanto, Haddad vê o ambiente mais equiparado ao de outros países com economias semelhantes. “Algum escape do câmbio, em função do déficit de transações correntes, ia acontecer”, pontuou.

Negacionismo do mercado

Ele ainda criticou o que chama de “negacionismo” sobre o déficit primário nas contas públicas do Brasil de 2015 a 2022. Segundo ele, o saldo negativo foi de R$ 2,1 trilhões no período, que inclui os governos Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

“Não vai ser bom para o país ficar negando as coisas e inventando um passado exuberante que não aconteceu. É só ver as contas. O que aconteceu de 2015 a 2022? R$ 2 trilhões de déficit primário. Ponto. Tira a pandemia: dá um R$ 1,5 trilhão de déficit primário. Se a gente for negacionista em relação ao que nós vivemos, nós não vamos avançar”, disse.

Em 2022, o Brasil registrou superavit primário de R$ 54,1 bilhões. Haddad disse que o resultado positivo é motivado por “calote” nos precatórios e transferências de recursos para governadores. Defende que o deficit primário foi maior em 2023 porque o governo Lula 3 precisou fazer os pagamentos.

Economia norte-americana

Desde que Donald Trump assumiu a presidência dos EUA, em 20 de janeiro, a moeda norte-americana iniciou uma trajetória descendente, o que demostra que não dá para jogar a culpa só na questão fiscal do Brasil. Ontem (24), o dólar comercial fechou o dia com alta de 0,43%, a R$ 5,755.

Haddad abordou no evento do BTG as imprevisibilidades trazidas pela economia global aos mercados mundiais. “A situação externa é mais desafiadora”, afirmou o ministro da Fazenda.

Por outro lado, Haddad lembrou que as agências de classificação de risco, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e os fundos de investimento têm uma visão diferente em relação à avaliação do mercado financeiro local. “Eles não têm a força que os [investidores] domésticos têm. Então, eles ficam aguardando um pouco antes de tomar investimento”, avaliou.

Haddad aproveitou para cobrar o reconhecimento, independentemente das preferências ideológicas, das reformas estruturais trabalhadas pela equipe econômica desde 2022 para melhorar o ambiente de negócios. “Se a a gente for negacionista em relação ao que vivemos, não vamos avançar.”

Entre elas está a aprovação da reforma tributária do consumo, uma discussão que levou mais de três décadas e que só agora, no governo Lula 3, foi aprovada.

Congresso

Se, por um lado, Haddad reconheceu o apoio do Congresso para que o governo pudesse corrigir distorções e elevar a receita, por outro, ele reafirmou que o Parlamento brasileiro impediu o governo de zerar o déficit fiscal.

“Parcelaram a reoneração da folha [de pagamentos]. Parcelaram o Perse [programa de apoio ao setor de eventos]. Parcelaram tudo, e eu não consegui o superávit estrutural que teria conseguido sem maquiagem”, ressaltou.

 

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