O mercado financeiro que vem errando, até aqui, todas as suas projeções para a economia brasileira, mostra, mais uma vez, que nunca está feliz quando o assunto é o governo Lula (PT). Para surpresa de zero pessoa, uma pesquisa Quaest divulgada, nesta quarta-feira (4), mostra que 90% dos agentes avaliam o mandato do petista negativamente.
O índice é 26 pontos percentuais mais alto que o último levantamento, realizado em março de 2024, e equivalente ao maior já registrado na série histórica, iniciada em março de 2023.
Apenas 3% dos entrevistados avaliam o governo do petista como positivo, ante 6% do levantamento de março, e 7%, como regular (eram 30%).
O levantamento ouviu 105 gestores, economistas, analistas e tomadores de decisão do mercado financeiro em fundos de investimento com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro entre os dias 29 de novembro a 3 de dezembro.
A margem de erro não foi divulgada. Na pesquisa anterior, era de 3,4 pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos.
Quando foi divulgado o resultado da pesquisa de março, o economista e fundador do ICL (Instituto Conhecimento Liberta), Eduardo Moreira, disse que o levantamento revelava muito mais a respeito do mercado do que do governo do petista. “Isso não é opinião, é dogma. Não existe nenhum grupo que você vá pegar, de faculdade progressista, donos de empresas… em qualquer grupo da sociedade você vai ter opiniões pendendo mais para um lado do que para o outro, vai ter 70% a favor, 30% contra, porque as pessoas param, refletem e respondem”, criticou Moreira, para quem isso reflete que os indivíduos do mercado financeiro se comportam como se integrassem uma “seita”.
Na ocasião, Edu Moreira, que trabalhou por duas décadas em mesas de operações do mercado, disse que o resultado da pesquisa é “incrível”, pois mostra como o “tal mercado é desprovido da capacidade de pensar por conta própria”. “O mercado emburrece os seus indivíduos. E nada mostra mais o emburrecimento e a superficialidade intelectual do mercado como essa pesquisa”, disse na época.
Nova rodada Quaest deixa cristalino que o foco nunca foi economia
A nova pesquisa Quaest também deixa claro que não se trata de economia, uma vez que, nessa esfera, todos os indicadores estão positivos. Ontem (3), o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o PIB (Produto Interno Bruto) avançou 0,9% no terceiro trimestre, crescimento igual ao da China, e maior que o dos Estados Unidos, França, União Europeia e Canadá.
Dentro dos países do G20 (bloco que reúne as 19 maiores economias do mundo, mais União Europeia e União Africana), o Brasil foi o quarto a crescer mais no período.
Segundo o diretor da Quaest, Felipe Nunes, os números representam um forte alta na reprovação do governo Lula e a reação do mercado financeiro ao pacote de corte de gastos apresentado na semana passada.
O pacote inclui projeção de R$ 70 bilhões de redução das despesas nos próximos dois anos, exatamente o montante defendido pelo mercado. O problema é que o governo não atacou o que o mercado queria que atacasse: redução do salário mínimo e de benefícios, além dos pisos da educação e saúde. Ou seja, não importa o valor. O mercado nunca estaria satisfeito, ainda que o governo cortasse R$ 300 bilhões em despesas.
Entre os entrevistados 86% acreditam que Lula está preocupado com sua popularidade e 29%, com o equilíbrio das contas públicas.
A respeito do pacote fiscal e da isenção de IR (Imposto de Renda) para quem ganha até R$ 5 mil, uma promessa de campanha de Lula, a pesquisa mostra que:
- 58% consideram o pacote fiscal nada satisfatório;
- 42%, pouco satisfatório;
- 67% dos entrevistados disseram que, após o pacote ser anunciado, vão aumentar investimentos no exterior, 30%, manter e 3%, diminuir;
- 85% disseram que a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil tende a prejudicar a economia brasileira, enquanto 15% acham que vai a ajudar;
- Porém, 99% avaliam que o fim da morte “ficta” – pensão paga a famílias de membros expulsos das Forças Armadas –, tende a ajudar a economia brasileira.
Em relação ao arcabouço fiscal, 58% avaliam que o conjunto de regras para controlar gastos não tem nenhuma credibilidade, enquanto 42% apontam pouca credibilidade.
Congresso
Os agentes também avaliaram mal o Congresso. Uma possível explicação, segundo o diretor da Quaest, é que o mercado acredita que a isenção de IR para quem ganha até R$ 5 mil deve ser aprovada, mas o aumento da tributação para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, não.
A avaliação do Congresso ficou assim:
- 41% avaliam como negativo (eram 17% em novembro de 2023);
- 38% como regular (eram 45%); e
- 21%, como positivo (eram 41%)
“Ou seja, o Congresso não parece mais ser visto pelo mercado como o ator fiscalista do país”, afirma Nunes.
Haddad
Do total de entrevistados, 41% avaliaram como positivo o trabalho do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, 9 pontos percentuais abaixo do resultado de março (50%).
Além disso, 24% enxergam o trabalho do ministro como negativo, ante 12% em março, e 35%, como regular (eram 38%).
Para 61% dos agentes do mercado financeiro, a força de Haddad está menor do que no início do mandato (eram 14% em março); 35%, veem como igual; e 4%, como mais forte neste período.
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