O mercado financeiro, em um primeiro momento, reagiu positivamente à posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos na véspera. Mas o que se espera das prometidas ações do republicano, como um plano de sobretaxar produtos de países, incluindo o Brasil, é alta volatilidade futura.
A tranquilidade da segunda-feira (20) nos mercados com a posse do republicano foi lida da seguinte forma por relatório divulgado pelo banco Santander: após a calmaria, vem a tempestade. “Na semana passada, os mercados brasileiros foram mais influenciados pelas tendências globais e pela redução da pressão das notícias locais, dado que o Congresso ainda está em recesso. Consequentemente, observamos um alívio nos preços dos ativos”, explica o banco no documento.
“É esta a calmaria antes da tempestade? Acreditamos que sim. Com a posse da nova administração dos EUA na segunda-feira, antecipamos maior volatilidade e ruído em torno de tarifas e potenciais mudanças na política econômica”, argumenta o Santander no documento.
Em seu primeiro discurso de posse, Trump anunciou a assinatura de uma série de medidas que, segundo ele, vão levar à “restauração completa da América”. No campo econômico, disse que vai derrotar a inflação e confirmou a aplicação de tarifas para importação. “Em vez de tributar os nossos cidadãos para enriquecer outros países, iremos impor tarifas e tributar países estrangeiros para enriquecer os nossos cidadãos”, afirmou, sem detalhar a proporção das cobranças.
De modo geral, os analistas esperam que a gestão Trump impacte os seguintes aspectos:
- Inflação e alta dos juros;
- Dólar mais alto;
- Economia norte-americana mais forte; e
- Bitcoin em ascensão.
Dólar alto e inflação nos Estados Unidos com Trump
Especialistas ouvidos por reportagem do g1 acreditam que as medidas de Trump trarão muita volatilidade aos mercados, com especial impacto sobre o dólar, que deve se valorizar, o que é muito ruim para o Brasil, por exemplo.
Na avaliação desses especialistas, o prometido aumento de tarifas de importação e a política anti-imigração de Trump podem gerar mais inflação nos EUA, o que força o Fed (Federal Reserve, o banco central estadunidense) a manter as taxas de juros elevadas, tirando recursos de países emergentes, como o Brasil.
Esse efeito acontece porque os títulos americanos são considerados os mais seguros do mundo. Ou seja, além dessa segurança, com os juros mais altos eles se tornam mais atraentes para investidores. Então, em vez de investir em títulos brasileiros, por exemplo, esses investidores preferem alocar seus recursos para lá.
Além disso, a renúncia de impostos para favorecer as empresas americanas é vista como um risco para as contas públicas dos Estados Unidos, o que é mais um desafio para o Fed no direcionamento da política monetária.
Por exemplo, na reunião de dezembro, o Fed citou “perspectivas econômicas incertas” para justificar a redução da velocidade dos cortes nas taxas de juros. Também deu sinais de que seria mais cauteloso na condução da política monetária.
A política anti-imigratória de Trump deve trazer também impactos ao mercado de trabalho norte-americano. Diante da escassez de mão de obra, a renda deve subir, trazendo pressões inflacionárias.
Impactos para o Brasil
No Brasil, antes mesmo da posse de Trump o dólar tem tido uma trajetória volátil desde novembro. A divisa norte-americana estava cotada a R$ 5,74 em 5 de novembro, dia da eleição norte-americana. Alcançou os R$ 5,81 em 22 de novembro. Dias depois, diante da reação exacerbada da Faria Lima ao pacote de redução de gastos do governo brasileiro, o dólar chegou pela primeira vez na história aos R$ 6, patamar no qual tem se mantido desde então. A moeda norte-americana acumula valorização de 27% em 2024.
Para os economistas ouvidos pelo g1, a tendência é que a moeda americana permaneça nesse patamar. O último boletim Focus, relatório do Banco Central (BC) que reúne as projeções de mais de 100 instituições financeiras, mostra que a expectativa é de dólar a R$ 6 até o fim de 2025.
Sem falar que dólar mais alto e juros em patamares elevados nos Estados Unidos trazem pressões sobre o Brasil, forçando o Banco Central do Brasil a subir os juros por aqui também. E quais as consequências disso? Crédito mais caro, redução no consumo das famílias, baixa nos investimentos das empresas e aumento da dívida pública, impactando a economia brasileira como um todo.
Atualmente, a taxa básica de juros brasileira, a Selic, está em 12,25%, e o mercado financeiro, conforme o Boletim Focus, prevê que ela termine 2025 em 15% ao ano.
Ibovespa
O Ibovespa, principal índice de ações da Bolsa de Valores brasileira, que perdeu a marca de 130 mil pontos desde a eleição de Trump, também deve ser impactado pelas políticas do republicano.
Ontem (20) o indicador fechou com alta de 0,41%, aos 122,855,15 pontos, enquanto o dólar comercial caiu 0,40% frente ao real, a R$ 6,04.
Bitcoin
As criptomoedas tem ganhado espaço com Trump, que é entusiasta do assunto. Tanto que, em 17 de janeiro, ele lançou sua própria criptomoeda, que rapidamente disparou em capitalização de mercado, alcançando vários bilhões de dólares. O lançamento dessa chamada meme coin foi batizada de $Trump,
O republicano indicou que vai promover um ambiente regulatório mais favorável para as criptomoedas.
O otimismo com o mercado de criptomoedas fez com que o bitcoin, o mais famoso desses ativos, superou a cotação de US$ 100 mil pela primeira vez na história.
Por ora, tudo se trata de balão de ensaio. Mas o mundo, com certeza, estará de olho nos movimentos da principal economia do mundo. Trump cumprirá seu segundo mandato. A diferença é que, agora, ele chega mais forte que antes.
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