O saldo das eleições do último domingo, para mim, foi mais negativo do que positivo. Perdeu a esquerda, perdeu o bom combate, perderam as bases fundamentais da democracia e perdemos nós, as mulheres.
A desvantagem está na largada tanto em número quanto em representatividade. Cerca de 20% de candidatas disputaram o pleito para as prefeituras. Nas capitais, pouco mais de trinta mulheres tentaram um espaço de protagonismo nos 26 estados do país. Aliás, até semana passada, apenas duas capitais estaduais eram lideradas por mulheres, com Adriana Lopes (PP), em Campo Grande (MS), e Cintia Ribeiro (PSDB), prefeita em Palmas (TO).
Em 2024, dos 69.346 eleitos no primeiro turno para prefeituras e vereança, apenas 12.417 são mulheres, quase 18% no total. Crescemos alguns pontos percentuais em relação às eleições de 2020 é verdade, mas sabem quantas candidatas foram eleitas prefeitas das capitais no primeiro turno? Nenhuma! Zero!
A presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Cármen Lucia, em coletiva de imprensa no dia 6, domingo passado, logo após o término das eleições, comentou sobre a participação das mulheres nas capitais.
“Fico triste em ver que, em uma sociedade onde mais de 52% do eleitorado e da população brasileira são compostos por mulheres, ainda somos tão poucas no cenário da participação política”.
A derrota parcial das mulheres não se viu apenas nas urnas. A disputa eleitoral desse ano foi marcada por episódios sórdidos de misoginia, violência, crime e ataques de mulheres contra mulheres.
Em Aracajú, Sergipe, uma mulher foi esfaqueada no local de votação pelo ex-companheiro na frente da mãe dela e do filho deles. O homem foi preso e a mulher está bem por sorte, ou porque estava num ambiente controlado e com segurança. Não estivesse numa zona eleitoral, provavelmente entraria para as estatísticas fatais do feminicídio.
A candidata a vice-prefeita de Porto Velho pelo PSOL, Liliane Rodrigues, foi vítima de estupro dois dias antes das eleições. De acordo com a denuncia, ela foi atacada enquanto dormia na casa onde havia feito uma reunião de trabalho já à noite, na capital Rondônia. Ela conta que em determinado momento se deitou devido ao cansaço e acordou sendo abusada. Assustada, Liliane se trancou em um banheiro e, em seguida, deixou a casa em estado de choque.
Que sociedade é essa que permite que um homem se sinta livre para atacar a facadas uma mulher em plena luz do dia diante de várias testemunhas? E que um outro homem se sinta no direito de violar o corpo de uma mulher enquanto ela dorme no ambiente de trabalho?
Além desses casos extremos, nós, mulheres, também perdemos quando o vale-tudo pela disputa do voto feminino é lançado como estratégia principal por uma candidata mulher. Foi o que fez Marina Helena, do Novo, contra Tabata Amaral do PSB, durante os debates em São Paulo. Ela levantou suspeitas, sem apresentar provas e nem indícios, sobre voos que Tabata teria feito ao Recife, como deputada federal, para encontrar o namorado. Atacar uma opositora com temas pessoais é violência política e de gênero. Pablo Marçal fez o mesmo ao dizer que mulher não vota em mulher porque é inteligente.
A violência contra a mulher sempre é mais dura quando o objetivo é diminuí-la no corpo, com estupro e facadas por exemplo, e no caráter com a violência de gênero. O caso é que quando essa última é praticada por outra mulher, a gente perde duas vezes.
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