Olá! Voltei. Saudades da coluna e da oportunidade de conversar com vocês. Eu precisava de um respiro, desconfiava que não sabia mais como relaxar, desconectar ou sentir fruição.
2024 foi o ano em que mais trabalhei em toda a minha carreira. Me dediquei 100% a três projetos completamente diferentes, a conta, óbvio, não fecha.
300%? Que loucura!
Fiquei quase dois anos sem férias. Marquei uma viagem de 10 dias com a família, tive uma crise de ansiedade na véspera. Nada de reunião, estúdio, trânsito, relatório, ihhhh, será que eu consigo?
Física e mentalmente, eu estava destruída. Em vários momentos durante o ano passado, eu sentia tremores involuntários e tontura. Diagnóstico? Privação de sono após longas jornadas de 15, 16 e até 17 horas de trabalho três vezes por semana. Nos últimos meses do ano, eu morria toda noite para ressuscitar na manhã seguinte.
Na véspera da volta para casa, caminhando com meu filho e conversando sobre nossas vidas e rotinas, ele disse que sentia falta da minha presença no cotidiano dele, nas coisas simples como checar se ele recebeu algum apontamento da escola no mural de recados. Enquanto os colegas se preocupavam com a reação dos pais, no caso dele, se recebesse uma reclamação, eu levaria um mês para descobrir. “Mas eu sei, mãe, que você trabalha demais, não se preocupa…”
Ser mãe é sentir culpa, e meu potinho transbordou.
Eu ainda não sei como vou conseguir girar todos os pratinhos em 2025, mas o alerta vermelho do meu filho foi mais forte que a tremedeira, as corriqueiras dores de cabeça e a ansiedade. Meu corpo avisou, mas foi o coração que me freou.
Eu voltei, mas vez ou outra vou pedir um tempo de novo. Um tempo para mim, para o Vitor e para nós também.
Falar “não”, “hoje eu não posso”, pedir ajuda ou dizer para o chefe que está sobrecarregada, não é demonstração de fraqueza, é um ato de liberdade mesmo sabendo que não somos verdadeiramente livres. As mulheres, em geral, entregam três vezes mais do que os homens para terem algum valor no ambiente de trabalho. Não é justo.
Num piscar de olhos, eu passei praticamente da metade da expectativa de vida da mulher brasileira. Como eu quero viver meu terceiro ato?
Não sei, mas eu quero poder dizer sem culpa, “hoje não”!
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