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Juliana Dal Piva

Formada pela UFSC com mestrado no CPDOC da FGV-Rio. Foi repórter especial do jornal O Globo e colunista do portal UOL. É apresentadora do podcast "A vida secreta do Jair" e autora do livro "O negócio do Jair: a história proibida do clã Bolsonaro", da editora Zahar, finalista do prêmio Jabuti de 2023.

Assessor de Carlos diz que família Bolsonaro sacava todo salário em dinheiro vivo

Jorge Fernandes recebeu cerca de R$ 2 milhões de outros seis assessores do vereador Carlos Bolsonaro, diz MP
08/07/2024 | 23h00

Juliana Dal Piva e Igor Mello

O chefe de gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), Jorge Fernandes, afirmou em depoimento ao MP-RJ (Ministério Público do Rio) que toda a família Bolsonaro “sempre sacava” os salários de suas contas bancárias integralmente. Uma cópia das declarações foi obtida pela coluna com exclusividade.

O depoimento de Fernandes ocorreu no dia 26 de outubro de 2023, meses depois do relatório do Laboratório de combate à lavagem de dinheiro e à corrupção MP-RJ apontar que o assessor pagava boletos em nome de Carlos com dinheiro da conta do funcionário sem receber repasses do vereador.

Questionado pela promotoria sobre os dados da investigação, Fernandes afirmou que “sabe que Carlos Bolsonaro sempre sacava seus proventos em espécie, porque toda a família assim o faz”.

Trecho depoimento Jorge Fernandes, chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro

Carlos Bolsonaro sacou R$ 1,98 milhão

No ano passado, uma reportagem do jornalista Ítalo Nogueira, do jornal Folha de S. Paulo, apontou que Carlos sacou quase 90% do salário recebido na Câmara Municipal entre 2005 e 2021. O total é de R$ 1,98 milhão. A coluna apurou que a suspeita é de que ele também entregasse os valores do salário para um esquema mais amplo que incluía seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu irmão mais velho.

Fernandes disse para a promotoria que “como chefe de gabinete não tinha responsabilidade de controlar o ponto dos funcionários” e o controle seria feito no gabinete. Além disso, Fernandes disse que “todo gabinete possui um escritório, uma vez que não espaço físico nos gabinetes para todos os funcionários”.

O assessor informou que “seu cunhado trabalhava com o deputado Bolsonaro”. Fernandes negou repasses a Carlos e se atrapalhou ao responder se pagava contas de consumo do vereador. Ele afirmou que “nunca pagou qualquer boleto referente a Carlos Bolsonaro; que, melhor dizendo, não se recorda de ter pago boletos em nome de qualquer outra pessoa que não sejam aqueles de sua família”.

 

Boletos pagos Jorge Fernandes, assessor de Carlos

Completou ainda dizendo que “não tem conhecimento do pagamento de boletos do plano de saúde de Carlos Bolsonaro”. Na semana passada, a coluna revelou que por nove anos, o MP só encontrou um pagamento feito por Carlos para seu plano de saúde com dinheiro de sua própria conta bancária. A promotoria também descobriu, ao menos, um pagamento feito pela mulher de Fernandes, Regina Fernandes, de um boleto do plano de saúde de Carlos Bolsonaro, em novembro de 2018. O MP não aponta no relatório repasses de Carlos para Regina Fernandes.

Trecho depoimento Jorge Fernandes, chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro

Na semana passada, a coluna revelou que, durante a análise bancária do vereador e de seus funcionários, a promotoria verificou que Fernandes, pagou sistematicamente boletos de despesas de Carlos, como faturas de cartão de crédito, plano de saúde, impostos e multas de trânsito.

Foram encontrados 23 contas do vereador e de pessoas ligadas a ele pagas por Fernandes entre 2012 e 2019, que somam um total R$ 27.929,66. Ao mesmo tempo, só foi identificado uma transferência online de R$ 8 mil de Carlos para Jorge em dezembro de 2011. O Laboratório de Combate à Lavagem de Dinheiro e Corrupção do MP-RJ analisou por amostragem esse tipo de movimentação financeira — sorteando aleatoriamente um número de documentos. Isso significa que o número pode ser ainda superior.

O chefe de gabinete é investigado por ser supostamente o operador do esquema de rachadinha de Carlos Bolsonaro. De acordo com a quebra de sigilos, ele recebeu pouco mais de R$ 2 milhões em sua conta de seis outros nomeados por Carlos Bolsonaro na Câmara.

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