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Ivanir dos Santos

Professor e orientador no Programa de Pós-graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Conselheiro Estratégico do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas (CEAP). Autor e idealizador da série Resistência Negra, da Globoplay.

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Favela: cultura e resistência

precisamos, mais uma vez, promover ações concretas de descriminalização da cultura e da população favelada
09/06/2025 | 08h35
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Após os últimos episódios, cá do meu canto ainda me pergunto: “Quem define o que é e o que não é cultura?” , “Quem definiu que favela é sinônimo de miséria, criminalidade e marginalidade?”

Por um lado, assistimos o processo de tentativa de criminalização da cultura do funk, especialmente em contexto como baile. O que nos leva, mais uma vez, aos debates sobre preconceito racial e social, liberdade de expressão, e o papel e ação do Estado brasileiro na repressão da cultura popular.

O funk carioca, assim como outras manifestações culturais negras periféricas tem sua história nas interfaces da perseguição e da repressão. Aqui, destaco as perseguições ocorridas contra o samba e a capoeira.

Não por acaso, na década de 1990 o Rap da Felicidade, cantado por Cidinho e Doca, além de retratar a realidade de perseguição e repressão dentro das comunidades e favelas também mostra o outro lado, o desejo de construir um futuro dentro da favela.

“Eu só quero é ser feliz
Andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é
E poder me orgulhar
E ter a consciência que o pobre tem seu lugar”

Futuro esse que começou a ser desenhado por outros jovens negros favelados que enxergaram e compreenderam e arte e a cultura da favela. Um grito social, politico e periférico que retrata as relações cotidianas e de resistência dentro das favelas cariocas.

No outro lado, dentro da favela, assistimos, mais uma vez, o assassinato de mais um jovem. Herus Guimarães Mendes da Conceição, morto por uma bala achada, estava, assim como outros favelados do Santo Amaro, se divertindo no ensaio de uma festa junina.

Ele era pai, filho, trabalhador, morador da favela. Sua morte é mais um caso que, infelizmente, ainda é cotidiano para famílias negra e periféricas no Brasil.

No final da década de 1980, coordenei, à frente do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas- CEAP, a Campanha Não Matem Nossas Crianças.

A campanha foi nacionalizada como forma de sensibilizar a sociedade para a gravidade do drama vivido nas favelas e periferias das grandes cidades. Tal processo de mobilização originou no plano federal o Estatuo da Criança e do Adolescente, como política pública do Estado Brasileiro.

Na época, era constatado que as vítimas do extermínio, em sua maioria, eram crianças e adolescentes negros. Algo que ainda hoje não mudou!

Segundo estudo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), entre os anos de 2021 e 2023, o Brasil registrou morte violenta intencional de pelo menos 15.101 crianças e adolescentes, com média de 13,5 mortes por dia.

Assim, urge o momento que precisamos, mais uma vez, promover ações concretas de descriminalização da cultura e da população favelada!

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