Por Juliana Dal Piva e Karla Gamba
Cerca de 15 dias após o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apresentar denúncia contra Flávio Bolsonaro, no caso das rachadinhas, integrantes da “Abin paralela” monitoraram ilegalmente os auditores da Receita Federal responsáveis pelo relatório que deu origem à investigação. A ação foi realizada com o intuito de “achar podres e relações políticas” dos servidores e produzir dossiês, na tentativa de desmoralizar e descredibilizar a investigação.
A denúncia contra Flávio foi apresentada em 3 de novembro de 2020. O senador foi denunciado por um desvio de dinheiro público no valor de cerca de R$ 6 milhões e alguns dos dados mais importantes da denúncia eram justamente as inconsistências apontadas na quebra de sigilo e no patrimônio de Flávio e de sua mulher, Fernanda Bolsonaro.
Dias depois, em 20 de novembro, Marcelo Bormevet e Giancarlo Rodrigues — apontados pela Polícia Federal como dois dos principais operadores do esquema da “Abin paralela” — iniciaram uma operação que classificavam como urgente.
Em mensagens encontradas pelos investigadores da PF, Bormevet e Giancarlo trocam dados pessoais, como CPF, de três auditores fiscais da Receita, sugerem que seja procurado algo em redes sociais de familiares e esposas, e ainda que seja verificado se algum deles possuía dívidas tributárias.
Outra conversa interceptada pela PF mostra que um mês depois, em 21 de dezembro de 2020, o gabinete de Alexandre Ramagem foi informado do andamento da operação. Em resposta a Bormevet, Giancarlo diz: “Relaxa aí que estamos providenciando as coisas aqui”.
O “caso das rachadinhas”, como ficou conhecido, apurava o desvio de parte dos salários de funcionários da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). Os valores desviados iam para o próprio parlamentar para o custeio de despesas pessoais. A investigação começou após um relatório de inteligência fiscal do Coaf constatar movimentações suspeitas nas contas de Fabrício Queiroz, assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro.
Advogadas de Flávio se reuniram com Bolsonaro e Ramagem para discutir defesa
Entre as provas já incluídas na investigação sobre a existência da “Abin paralela” — montada para monitorar ilegalmente opositores da família Bolsonaro — consta uma gravação em áudio de uma reunião realizada 25 de agosto de 2020, no Palácio do Planalto. Nela, o então presidente Jair Bolsonaro, Alexandre Ramagem (à época chefe da Abin), o general Augusto Heleno (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional), além de Luciana Pires e Juliana Bierrenbach, que eram advogadas de Flávio Bolsonaro, discutiram estratégias para protegê-lo no caso das “rachadinhas”.
O áudio foi encontrado em um computador de Ramagem, responsável pela gravação, durante as investigações sobre atividades ilegais dentro da Abin, e veio à público nesta segunda (15) após o ministro do STF Alexandre de Moraes retirar o sigilo.
Durante a reunião, o ex-presidente Jair Bolsonaro expressa preocupação com a investigação envolvendo o filho Flávio, e se dispõe a conversar com agentes públicos para intervir no caso:
“A quem interessa pra gente resolver esse assunto?”, pergunta o então presidente, tentando lembrar de quem poderia ajudar a blindar o filho.
Bolsonaro é aconselhado por Ramagem e Heleno, que indicam possíveis nomes que poderiam ajudar, mas alertam para deixar a operação “fechadíssima”, só entre gente de confiança.
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