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Capital de SC não consegue construir frente ampla contra bolsonarismo

Em Florianópolis, PT e PSOL não entraram em acordo para constituir chapa de frente ampla
26/07/2024 | 06h58

Por Amanda Miranda – Newsletter Passando a Limpo

Um racha nos partidos da frente ampla que elegeu Lula em 2022 pode dificultar ainda mais a derrocada bolsonarista em Florianópolis, capital de um dos estados mais conservadores do Brasil. PSOL e PT protagonizam uma disputa por espaço e pelo eleitorado progressista, enquanto o PSB desponta como fiel da balança, com intervenção do diretório nacional, tendo desfeito o apoio constituído ao PSOL para se aliar ao PT.

O cenário vai ser confirmado até 5 de agosto, data limite para a homologação das candidaturas nas convenções dos partidos.

Em 1992 a capital de Santa Catarina, Florianópolis, elegeu de forma inédita seu primeiro (e único) prefeito de esquerda, Sérgio Grando, então PPS. A união com o PT, representado pelo vice, Afrânio Boppre, deixou em segundo e terceiro lugar na disputa as principais forças políticas da época: o PMDB e o PDS, que revezavam o poder em grande parte dos municípios catarinenses.

Em 2022, tal qual no Brasil, a eleição ao governo de Santa Catarina colocava forças opostas buscando o poder: Décio Lima, pelo PT, e Jorginho Mello, do PL, disputaram o segundo turno com uma vitória folgada do bolsonarismo com mais de 70% dos votos. Lima liderou uma frente ampla que contou com a participação do PSB, PCdoB, PV e Solidariedade.

O PSOL ficou de fora porque queria disputar o Senado. Como a frente de esquerda deu a vaga a Dário Berger, então no PSB, o partido lançou Afrânio Boppre — o mesmo que compôs com Grando o único governo de esquerda da história da Capital. O eleito foi o bolsonarista carioca Jorge Seif, com quase 40%. Berger e Boppre tiveram 16,23% e 3,11%, respectivamente.

A história trouxe alguns desses personagens de volta, em uma cisão semelhante, mas com contornos mais dramáticos: o PSOL, que ficou de fora da frente ampla de SC em 2022 por não conseguir indicar seu senador, despontou como vice-líder nas pesquisas feitas pelas siglas na pré-campanha.

O atual deputado estadual Marquito só perdia para o atual prefeito Topázio Neto (PSD). Já o ex-prefeito e senador Dário Berger, que foi para o PSDB, entrou na disputa querendo fisgar a vaga num eventual segundo turno. E é justamente a candidatura dele que tem aguçado a tensão entre o PT e o PSOL na Capital.

Dário Berger era da frente ampla em 2022

Rivais históricos desde 1994 até 2014, PT e PSDB não se coligaram em Florianópolis, mas a proximidade criada na disputa de 2022, quando Dário era do PSB e subiu ao palco onde Lula fez um dos seus últimos comícios do primeiro turno, aumentou o nível de tensão às vésperas do início oficial da campanha.

Lideranças do PT negam que haja negociações, mas nos bastidores se fala sobre uma aliança construída já em 2022, com influência do ex-deputado estadual Gelson Merisio, hoje consultor da multinacional JBS.

O PT vai lançar o candidato Vanderlei Lela Faria, ex-vereador. Mas fontes do PSOL e do próprio PT sugerem que o objetivo, oficialmente negado, não seria disputar o topo, e sim ajudar Berger num eventual segundo turno em que Marquito tende a perder espaço em razão do tempo de propaganda eleitoral e da escassez de recursos.

Lela teria presença tímida nas pesquisas que circulam internamente nos partidos, mas o PT buscou no jogo dos bastidores um apoio importante: o PSB, que já havia se comprometido em compor com o PSOL, recebeu um ultimato do diretório nacional e deve apoiar Lela.

A soma das duas forças isola ainda mais a candidatura de Marquito, que tende a entrar enfraquecido na disputa por uma vaga no segundo turno. Lideranças do PSOL veem o movimento como um gesto para forçar a desistência de última hora do socialista, mas asseguram que isso não vai acontecer e acreditam que ele continua sendo o candidato capaz de mobilizar mais votos numa frente ampla.

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O senador Jorge Seif e Luciano Hang, dono da Havan

Incertezas

Os dirigentes dos partidos materializam as incertezas sobre uma aliança ampla em seus discursos, mas não falam abertamente sobre composições com outras forças políticas, como o PSDB e o União Brasil, que sustentam a candidatura de Dário Berger. A tônica nas falas é de que não houve acordo capaz de sustentar a frente ampla.

O presidente interino do PT-SC, Vitor Silveira, diz que o partido negociou com todas as forças progressistas da cidade e decidiu indicar o seu candidato por um pedido do presidente Lula e da militância. Ele nega tratativas e qualquer tipo de acordo com o PSDB e diz que o que existe é uma “boa relação” com o candidato Dário Berger.

Silveira também afirma que há cidades do estado em que PT e PSOL estão juntos e que, em Florianópolis, existe uma expectativa para que o partido se some a chapa encabeçada por Lela. “Estamos aguardando um gesto do PSOL de indicar a vice”, pontua, sinalizando com o artigo feminino que a preferência seria por uma mulher.

Ele ainda comemora o número recorde de candidaturas petistas no Estado para as eleições de 2022, estimando os números de 177 candidatos a prefeitos, 126 a vice e 1992 vereadores.

O presidente do PSB de Florianópolis, Homero Gomes, disse que os partidos não foram capazes de construir a frente como ocorreu em 2020. “Não consigo encontrar justificativa para esse descompasso político na cidade, apesar de respeitar a autonomia dos partidos que apresentaram-se para o protagonismo nessas eleições”, pontuou.

O dirigente aponta que o debate interno sobre as eleições municipais no partido começou em junho do ano passado, dialogando com os partidos da base aliada do governo Lula/Alckmin. O apoio ao PSOL chegou a ser endossado pela direção nacional do partido, mas foi condicionando à reciprocidade de apoio em outra capital, o que não se materializou.

“Apesar da disposição demonstrada pelo direção catarinense (do PSOL), que entregou apoios em Joinville, Garopaba e Imbituba, o fato é que o PSOL não entregou apoio ao PSB em nenhuma capital e isso trouxe consequências para todos nós”, disse. Por isso, ele afirma que a decisão da direção nacional pela retirada de apoio é irrevogável. O PT apoia o PSB em pelo menos 120 cidades nas disputas municipais pelo país.

A presidenta do PSOL em Florianópolis, Victória Borges, disse que a retirada de apoio do PSB pegou a todos de surpresa, já que não refletiria a construção iniciada em 2023 entre os dois partidos.

“Hoje a gente sabe que metade da chapa de vereadores do PSB municipal constrói o projeto político do Marquito, acredita no Marquito como prefeito”, pondera. Sobre o PT, também afirma que houve conversas, mas que respeita a autonomia do partido em indicar seu nome, ainda que esteja em jogo um projeto político no qual não há muito tempo para disputa. “A expectativa com o PT é realmente de responsabilidade sobre nossa cidade”.

Mesmo com a formalização da retirada do único apoio conquistado até então, Victoria diz que o partido ainda busca construir alianças. “A gente permanece construindo, os pré-candidatos continuam fortalecendo o nosso programa porque a gente enxerga tanto a luta que eles fazem quanto o compromisso com o projeto alternativo que a gente apresenta para a cidade.”

 

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