“É a economia, estúpido!”. Frase que foi consagrada pelo então marqueteiro da campanha de Bill Clinton, em 1992. Desde então é adaptada em diversos contextos eleitorais para além da realidade estadunidense.
Em termos institucionais, como setores das igrejas evangélicas se organizam para participar da política partidária com ambições eleitorais? As representações políticas evangélicas não se resumem às redes de comunicação dos grupos religiosos implicados, mas, certamente, trata-se das instituições mais frequentes e decisivas para que se entenda o fenômeno.
A famigerada “igreja eletrônica” das últimas décadas do século 20 se transformou em “palanque político” nas primeiras décadas do século 21, tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Nem a alegada agenda moral consegue representar o ponto de convergência entre os diversos grupos evangélicos. Pelas vias eclesiásticas ou estéticas, teológicas ou dos costumes, não é possível se chegar a um ponto comum que congregue e defina o ser evangélico no Brasil.
O projeto político prioritário, em termos institucionais, comum aos setores evangélicos implicados, é a formação, manutenção e extensão de redes de comunicação, para que os respectivos grupos religiosos disponham de poderes simbólicos, econômicos e políticos.
Sobre igrejas evangélicas, existem muitas generalizações, inclusive no ambiente acadêmico. Generalizações que ignoram que o grupo é por definição pulverizado e não possui um centro decisório.
Mesmo na prática política, não se pode falar em um comportamento padrão ou num discurso unívoco. Quando acrescemos o fator instituições de mídias, precisamos de cautela para não dobrarmos as generalizações como se fossem pressupostos.
Considerar a centralidade da mídia na vida contemporânea não chega a ser um exagero. Os avanços da tecnologia da informação colocam a mídia como central, seja para o entretenimento, a informação, a educação, o trabalho ou a política.
Seria inconcebível descrever as engrenagens da dinâmica da economia globalizada sem admitir o contexto da “era digital”, por exemplo. As transformações provocadas pelas revoluções da tecnologia da informação colocam na centralidade a mídia, seja no aspecto cultural, social e religioso.
Caso a assertiva que a mídia conquistou a centralidade da vida humana seja procedente, podemos inferir que a mídia conquistou a centralidade da representação política evangélica.
Os poderes simbólicos, econômicos e políticos que alguns setores evangélicos dispõem dependem, em boa medida, das suas redes de comunicação.
A mídia, além de ser palco, se transformou também em objeto das disputas políticas. Não atribuir à mídia uma posição central na formação da cultura política seria incorrer em grave erro. Seria um reducionismo insistir na perspectiva analítica em que a mídia é considerada como mera informação política. O sentido de representação traria dupla implicação interpretativa: representação da realidade e constituição da realidade.
O mesmo pode ser dito sobre o fenômeno religioso em que grupos evangélicos brasileiros protagonizam ações públicas em que o midiático e o político não são meros meios, mas são estabelecidos como estruturas e instituições fundamentais para as proclamadas missões religiosas.
O rádio como eixo interpretativo da representação política evangélica.
Para algumas igrejas, o rádio não é um mero veículo de transmissão de mensagens, mas se constitui como componente importante das suas próprias identidades.
Não por acaso, as igrejas evangélicas que são mais afeitas a construírem estruturas políticas são as mesmas que possuem estruturas midiáticas em que as rádios têm função de destaque para construção, manutenção e expansão das suas redes de comunicação.
Neste sentido, não se trata de coincidências que a representação política evangélica tem ligação direta com as redes de comunicação evangélicas.
Quando nos referimos a redes de comunicação de alcance regional ou nacional, certamente temos que considerar as interfaces entre estruturas eclesiásticas e econômicas.
Para operar as mídias de radiodifusão são necessários expressivos recursos técnicos, financeiros e comerciais. A manutenção é onerosa e não se pode admitir o funcionamento dessas empresas apenas contando com o voluntarismo dos fiéis das respectivas igrejas.
Para além das ofertas recolhidas nos cultos, como as redes de comunicação evangélicas desenvolvem mecanismos de captação de recursos? Manutenção e produção da radiodifusão são caras, mas é justamente por meio do funcionamento de redes de comunicação que grupos evangélicos adquirem recursos financeiros. Em poucas palavras, as redes de comunicação evangélicas reúnem três poderes: simbólico, econômico e político.
Para os leitores interessados em aprofundar as análises que aqui foram apresentadas sumariamente, ver na íntegra o meu artigo “Representação política evangélica: Rádios FM´s nas capitais brasileiras“.
No próximo artigo, retorno ao tema aqui na coluna. Enquanto isso, oremos! Os dias são maus com convocações para as marchas da insensatez.
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