O presidente Lula exonerou Alessandro Moretti, diretor-adjunto da Abin (Agência Brasileira de Inteligência). A decisão ocorre em meio às investigações da Polícia Federal sobre uma suposta espionagem ilegal na corporação durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e com possível continuação na gestão atual.
Na presente semana, o ministro relator do inquérito no Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, autorizou o levantamento do sigilo da ordem que permitiu tais ações, revelando que também houve participação da cúpula da agência nomeada pelo presidente Lula no caso de espionagem.
O lugar de Moretti na Abin será ocupado por Marco Cepik, que atualmente é responsável pela Escola de Inteligência da Abin. Cepik, um cientista político que já atuou como diretor-executivo do Centro de Estudos Internacionais sobre Governo (CEGOV) em Porto Alegre (RS), assume o cargo em meio a expectativas de mudanças em outros sete departamentos da agência.
O inquérito da PF destaca que membros da atual cúpula da Abin interferiram e prejudicaram as investigações, dificultando o acesso a dados ou beneficiando pessoas ligadas ao governo anterior. A Polícia Federal sugere a existência de um possível “conluio” entre investigados da gestão anterior da agência e membros da administração atual, resultando em prejuízos para a investigação, os envolvidos e a própria instituição.
“A preocupação de ‘exposição de documentos’ para segurança das operações de ‘inteligência’, em verdade, é o temor da progressão das investigações com a exposição das verdadeiras ações praticadas na estrutura paralela, anteriormente, existente na Abin”, aponta relatório da Polícia Federal enviado ao STF.
Em resposta às críticas do relatório da PF, a Abin divulgou uma nota afirmando que tem contribuído com as investigações nos últimos 10 meses e que continuará colaborando para esclarecer possíveis ilícitos. A revelação das alegações levou à demissão de Moretti, e o entorno do presidente começou a discutir a extensão das mudanças na cúpula da agência.
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