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Marinha critica FURG por cassar título de doutor honoris de ministro da ditadura

Segundo o comandante da Marinha, antigo ministro foi um homem "honrado" e "progressista"
16/04/2024 | 16h20

O almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha do Brasil, enviou uma carta à Universidade Federal do Rio Grande (FURG) criticando a cassação do título de doutor honoris causa concedido a Maximiano Eduardo da Silva Fonseca.

Maximiano, que morreu em 1998, era almirante e foi ministro da Marinha durante a ditadura militar, no governo de João Figueiredo, entre 1979 e 1984.

Olsen, na carta direcionado ao reitor da Universidade, manifesta “profundo desagrado” à medida e ressalta que Maximiano foi o “idealizador do mais longevo programa estratégico de pesquisa do Brasil, o Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR)”.

“Insisto em apresentar os protestos de indignação da Marinha do Brasil com a cassação do referido titulo”, disse Olsen.

Segundo Olsen, o antigo ministro foi um homem “honrado” e “progressista”.

lmirante Marcos Sampaio Olsen, Comandante da Marinha. Foto: Marinha do Brasil/ Divulgação

O que disse a Universidade?

A Universidade Federal do Rio Grande (FURG) respondeu ao pedido do comandante da Marinha através de seu reitor, Danilo Giroldo.

Em um documento, ele explicou a decisão do Conselho Universitário da instituição, reconheceu a “complexidade” do tema e afirmou que Maximiano foi “uma pessoa com inquestionáveis e grandiosas contribuições ao nosso país”.

O reitor cita, ainda, que Maximiano foi implicado “no cometimento de graves violações dos direitos humanos”, citando “o uso do navio hidroceanográfico Canopus como prisão ilegal”.

A FURG manteve a cassação do título concedido a Maximiano em 1984 e disse estar à disposição para receber documentos que afastem a responsabilidade de Maximiano no caso do navio-prisão para debater o tema novamente.

“Lamentamos profundamente os transtornos causados por esta decisão da instância máxima deliberativa da FURG, ou por qualquer falha de comunicação ou manifestação indevida da nossa parte e reiteramos que esta decisão em nada fere os atos muito significativos e relevantes praticados pelo Almirante Maximiano. Da mesma forma, este ato não visou em absoluto promover afronta institucional à Marinha do Brasil, uma vez que a FURG preza muito pela frutífera e longa trajetória de cooperação institucional, sempre pautada pelo respeito e pela cooperação em prol do conhecimento e uso sustentável do mar brasileiro e zonas de transição, assim como o fortalecimento da mentalidade marítima nacional”, respondeu o reitor.

Quem foi o almirante Maximiano Eduardo da Silva Fonseca?

Maximiano Eduardo da Silva Fonseca nasceu no Rio de Janeiro, em 1919. O militar ingressou na Marinha no final dos anos 1930.

Comandou o navio Canopus, que fez o levantamento da costa sul. Em abril de 1964, logo após o golpe militar, a embarcação manteve 19 prisioneiros em Rio Grande. Assumiu o Ministério da Marinha em 1979 e foi responsável por Operações Antárticas na década de 1980.

Maximiano morreu em 1998, no Rio de Janeiro. Hoje, o almirante batiza um navio polar de 93,4 metros de comprimento e capacidade para 113 pessoas.

Outras cassações

Emílio Garrastazu Médici e Jarbas Passarinho

Além do almirante Maximiano, a FURG cassou os títulos de doutor honoris causa concedidos ao então presidente Emílio Garrastazu Médici, que governou o país entre 1969 e 1974, e a Golbery do Couto e Silva, chefe do Serviço Nacional de Informações de 1964 a 1967 e ministro da Casa Civil de 1974 a 1981.

Outras universidades também adotaram a postura de cassar títulos concedidos a militares com participação na ditadura. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) cassou os títulos concedidos aos ex-presidentes Humberto de Alencar Castelo Branco, Artur Costa e Silva e Artur Costa e Silva.

O Conselho Universitário da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) aprovou, por unanimidade, a cassação dos títulos de Honoris Causa de Jarbas Passarinho, um dos signatários do Ato Institucional nº 5, e Emílio Garrastazu Médici, presidente da República que instaurou quatro anos e meio de terror na ditadura militar.

 

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