O Ministério Público da Bahia (MP-BA) apura uma suspeita de transfobia cometida pelo afoxé Filhos de Gandhy. A investigação foi aberta após o grupo vetar a participação de homens trans no tradicional desfile de Carnaval.
“De acordo com o artigo 5º do estatuto social, só poderão ingressar na associação pessoas do sexo masculino cisgênero, por isso, a venda do passaporte será apenas para esse público”, diz o comunicado dos Filhos de Gandhy.

MP-BA apura suspeita de transfobia após afoxé Filhos de Gandhy vetar participação de homens trans no desfile de Carnaval. (Foto: Reprodução)
O MP-BA oficiou o grupo por e-mail, com um pedido de informações e esclarecimentos. O órgão disse que “aguarda retorno para adoção das medidas cabíveis”, que não foram detalhadas.
A Defensoria Pública da Bahia afirmou que foi “surpreendida” com a situação e que a decisão tomada pelo bloco “claramente incita discriminação e preconceito contra essa parcela da população”, sujeitando os responsáveis pela lei que equipara atos de transfobia ao crime de Racismo. O órgão também enviou um ofício solicitando esclarecimento e, recomendando a exclusão da cláusula.
O caso gerou estranheza na Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra). “Nós não podemos esperar que um bloco como esse, que acolhe tantas pessoas, especialmente aquelas pessoas que vivem em uma situação do racismo estrutural que a gente tem, tendo uma atitude tão radical como essa”, disse Keila Simpson, secretária da Antra à TV Bahia. Keila também repudiou a decisão.
Após a repercussão do caso, o Filhos de Gandhy informou, em nota, que recolheu o termo cisgenero do aviso, passando constar apenas “sexo masculino”. O grupo afirmou ainda que uma assembleia geral será realizada depois para discutir alteração no estatuto.
Filhos de Gandhy
Neste ano, o afoxé faz o 76º Carnaval de Salvador, com o tema “Ogum – O Senhor do Ferro, dos Metais e da Tecnologia!”. Nos dias 2 e 4 de março, o desfile acontecerá no circuito Osmar (Campo Grande). No dia 3, será no circuito Dodô (Barra-Ondina). O grupo é composto por cerca de quatro mil associados, exclusivamente formado por homens.

Investigação foi aberta após o grupo vetar a participação de homens trans no tradicional desfile de Carnaval. (Foto: Agência Brasil)
Leia a nota dos Filhos de Gandhy na íntegra
“O Afoxé Filhos de Gandhy, ao longo de seus 76 anos de história, sempre teve como princípio a valorização da paz, do respeito e da tradição. Nosso estatuto social reflete a trajetória e os fundamentos da nossa irmandade, que, por décadas, tem preservado sua identidade cultural e religiosa.
Tradicionalmente, e de acordo aos preceitos religiosos que o regem desde o início, o Afoxé Filhos de Gandhy é formado exclusivamente por pessoas do sexo masculino, de toda raça, credo, cor, religião, orientação sexual, partido politico ou classe social.
Reconhecemos que a sociedade está em constante transformação e que debates sobre inclusão são fundamentais. Estamos sempre dispostos ao diálogo respeitoso e à reflexão sobre como manter nossas tradições vivas, ao mesmo tempo em que acolhemos as discussões da sociedade.
Nesse sentido, recolhemos o termo de aceite onde consta a palavra masculino cisgenero, passando constar apenas do sexo masculino, quanto a alteração no estatuto posteriormente convocaremos uma assembleia geral para discutir o assunto”.
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