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Chico Alves

Jornalista, por duas vezes ganhou o Prêmio Embratel de Jornalismo e foi menção honrosa no Prêmio Vladimir Herzog. Foi editor-assistente na revista ISTOÉ e editor-chefe do jornal O DIA. É co-autor do livro 'Paraíso Armado', sobre a crise na Segurança Pública no Rio, em parceria com Aziz Filho. Atualmente é editor-chefe do site ICL Notícias.

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Nêgo Bispo e o seu encantamento

"Aprender mesmo a gente aprende quando o saber não é mercadoria"
07/12/2023 | 22h04

“Aprender mesmo a gente aprende quando o saber não é mercadoria”.

Essa foi uma das diversas frases marcantes e emblemáticas desse mestre contracolonialista da história do Brasil, Antonio Bispo dos Santos, o Nêgo Bispo.

Não acredito nessa despedida, como se não fosse mais ver Nêgo Bispo, nem sentir seus pensamentos e embates com uma academia colonial e dominante. Ele foi se reencantar, deu dormidinha e já se levantou, pois pessoa como ele se distribui em nossos corpos e mentes, se constitui em nós.

Sua forma própria de nos trazer uma autoestima, baseado em nossos valores quilombolas e territórios e da população negra não deixa somente um legado. Deixa uma possibilidade de filosofar com outros olhares e sentimentos suleares das Américas negadas e seus saberes do envolvimento do conhecimento e não do desenvolvimento.

“Precisamos aprender a voltar pra casa”.

Pois é, eu o conheci esse ano na Flica – Feira Literária Internacional de Cachoeira no Recôncavo Bahiano. Foi um breve encontro onde eu pude lhe dizer do orgulho em tê-lo conhecido.

Homem de semblante calmo, me parecendo curioso por tudo que estava acontecendo ao seu redor.

A importância e potência para muitos de nós e como ele era referência nas lutas por um mundo melhor, creio eu,  era baseada no seu lidar, sem a arrogância das intelectualidades ditas produtoras de um único conhecimento. Era o seu diferencial por um aprender não mercadológico próprio dos dominantes dessa “Escola” que se auto intitula superior.

Bispo ao meu olhar, continua nos ensinando a aprender, nos envolvendo nessas aulas de viver em nós, indicando que nossos saberes precisam ser distribuídos de forma coletiva, ensinando como os povos tradicionais e seus territórios têm muito a contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária de maneira comunal.

Pessoas como esse mestre que nos deixou fisicamente, tão novo, tem um saber ancião e ancestral que nos constitui. Ele é uma biblioteca viva e, mesmo que seu corpo tenha se encantado, seus saberes serão eternos e força propulsora de outros e outras que o ouviram para além do escutar.

Suas aulas serão eternizadas em nossas vidas e agires nesse mundo que está precisando voltar pra casa. Uma casa que não pode ser utópica, uma casa do É possível!

Reencante-nos Nêgo Bispo, pois ainda precisamos de você!

 

 

 

 

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