Pablo Marçal é um delinquente condenado por estelionato, embora a pena tenha prescrito. Ele aplicava golpes em bancos pela internet. De outra feita, Pablo levou para uma escalada de montanha 32 pessoas em um dia de chuva e de ventos de 100 km/h. Foi necessária uma ação de salvamento do Corpo de Bombeiros para evitar o pior. No entanto, Pablo conta esta história como se fosse uma vitória, um exercício de superação que confirmaria sua destinação divina e seu carisma.
Pablo é um tipo perigoso, oportunista e mentiroso, e que certamente deveria estar na cadeia, mas ele não é burro. Afinal, conseguiu perceber o “espírito de sua época” e decidiu se aliar à religiosidade neopentecostal e sua doutrina da prosperidade neoliberal de modo a alavancar a própria carreira e a “sua” própria prosperidade. A partir disso é que o perdedor Pablo, marcado por repetidos reveses, passa a vender a ilusão de prosperidade e sucesso para seu público cativo, que é o mesmo de Bolsonaro.
Ele agora aplica seus golpes sob a pátina da religião e da prosperidade. Em um encontro recente, Pablo reuniu 5 mil pessoas — mais de 120 mil assistiam pelas redes sociais — no ginásio da Portuguesa, em São Paulo, para vender o “desbloqueio da mente milionária”. Ao final, todos recebiam grãos de feijão da prosperidade. Seu público era de homens jovens, as vítimas perfeitas do discurso neoliberal meritocrático que diz que só não vence na vida quem não quer.
Nada mais perigoso para a democracia que o embuste neopentecostal. Ele parte do desconhecimento das causas operantes para a desigualdade de chances e oportunidades e colhe os frutos da ignorância generalizada. Um público imbecilizado pela falta de qualquer conhecimento relevante sobre a forma como a sociedade funciona e, ao mesmo tempo, com raiva da situação de penúria na qual a maioria se encontra.
É neste espaço que entra o coach neopentecostal vendendo o milagre da própria acumulação de riqueza às custas do seu público desavisado. De resto, o neopentecostalismo se aproveita das crenças das religiões afro-brasileiras na influência dos espíritos na vida mundana, e vende, por outro lado, o “descarrego” desses espíritos da magia nos templos, ou no “desbloqueio” na linguagem de Pablo, se utilizando de nomes bíblicos para instrumentalizar o prestígio do cristianismo.
O problema é que agora o embuste chamado Pablo Marçal quer ser prefeito de São Paulo e começa a crescer nas pesquisas. Gente desavisada e mal-informada existe aos montes para garantir seu sucesso. O diabo é que São Paulo tem muita gente, e dessa vez não existe Corpo de Bombeiro no mundo que possa salvar todos.
Deixe um comentário