Um dia depois da entrevista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Globonews, na qual ele fez críticas à condução da política monetária, ao regime de metas de inflação e à autonomia do Banco Central, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, escreveu ontem (19), em sua conta oficial no Twitter, que não há “nenhuma predisposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”. Além dele, o próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, também minimizou a fala de Lula, dizendo que ela foi tirada de “contexto”.
Padilha se manifestou sobre o assunto em três posts. “Como disse o presidente Lula, na sua experiência de governo, deu plena autonomia ao [então] presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. O presidente não vai mudar de postura agora, ainda mais com uma lei que estabelece regras nesse sentido”, escreveu Padilha. “A gente sabe, no entanto, que nem todo presidente é tão respeitoso quanto Lula. Logo, não há nenhuma pré-disposição por parte do governo de fazer qualquer mudança na relação com o Banco Central”, disse.
“O governo sabe que a política monetária e o papel de análise da macroeconomia do Banco Central são de extrema importância. E, também por isso, a convivência respeitosa entre as instituições vai continuar sendo a ordem dessa gestão”, escreveu Padilha.
Ontem, o presidente Lula reforçou tudo o que havia dito na entrevista exclusiva concedida à jornalista Natuza Nery na quarta-feira (18), ao criticar o BC pela condução da política monetária. O petista citou novamente a autonomia da instituição e apontou um descompasso entre a taxa básica de juros (Selic) e a inflação, dizendo que “a gente poderia nem ter juros”.
“Qual é a explicação de a gente ter um juros de 13,5% hoje? O Banco Central é independente, a gente poderia nem ter juros”, disse o presidente em encontro com reitores de universidades e institutos federais no Palácio do Planalto. “A inflação está em 6,5%, 7,5%, por que os juros estão a 13,5%?”, questionou.
Na última reunião em dezembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a Selic, na verdade, em 13,75% – e não 13,5%, como disse Lula. A inflação acumulada em 2022 foi de 5,79%, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Campos Neto diz que fala de Lula sobre autonomia do Banco Central foi tirada de contexto
O presidente do Banco Central minimizou ontem a fala de Lula sobre a independência da autarquia monetária. Campos Neto, que participou de uma palestra na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), promovida pela UCLA Anderson School of Management.
“Eu acho que em algumas dessas entrevistas, muitas coisas estão tiradas de contexto (…) eu acho que ele quis dizer que ‘você poderia ter independência sem a lei e fazer as coisas funcionarem’. Mas quando pensamos no que está acontecendo no Brasil e como foi difícil esse processo eleitoral no Brasil… acho que o mercado teria sido muito mais volátil se o banco central não tivesse autonomia por lei, acho que seria mais um elemento de incerteza que acrescentaria mais volatilidade”, disse.
A autonomia do Banco Central foi aprovada pelo Congresso em 2021, estabelecendo, entre outros pontos, mandatos fixos para a diretoria. Essas mudanças, segundo o BC, reduzem a influência política sobre seus dirigentes, que determinam o patamar da Selic.
A fala de Lula vai em linha com as impressões do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento e Orçamento do Brasil, Simone Tebet, que também já criticaram publicamente os juros altos, que afastam investimentos e pesam, principalmente, no bolso da população mais vulnerável. Como o nome diz, a Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira, influenciando todas as demais praticadas no país – sejam as que um banco cobra ao conceder um empréstimo, sejam as que um investidor recebe ao realizar uma aplicação financeira.
Na entrevista e no encontro ontem com reitores, Lula criticou o regime de metas de inflação. Hoje, a meta de inflação de 2023 está em 3,25%, caindo para 3% em 2024 e 2025. Para ser alterada, precisa do aval do CMN, composto pelos ministros Haddad e Tebet, além do presidente do BC.
De acordo com reportagem publicada em O Estado de S.Paulo, nas críticas feitas na entrevista o alvo principal de Lula era o regime de metas, pois, “há 20 anos, no dia 21 de janeiro de 2003, o governo Lula 1 decidiu trabalhar com uma meta de inflação ajustada de 8,5%, dois pontos e meio acima do teto fixado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN)”.
Na avaliação da reportagem, quando mira a autonomia do BC, Lula está, na verdade, mirando o regime de metas e, nos bastidores, pode estar discutindo mudanças nesse sentido “na tentativa de brecar o risco de uma recessão econômica” e frear o juro real elevado, que hoje está na casa dos 8,2% ao ano.
Redação ICL Economia
Com informações das agências de notícias
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