Por Caio Crisóstomo
(Folhapress) — A Polícia Federal (PF) interrogou o general Carlos Alberto Santos Cruz, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), sobre a relação da família do ex-presidente com israelenses que forneceram o software espião FirstMile, usado pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência) durante o governo bolsonarista contra políticos, juízes e jornalistas.
A reportagem apurou que os depoimentos do general e do filho dele, Caio Santos Cruz, tiveram como ponto principal questionamentos sobre a atuação do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente, e a sua relação com os israelenses.
Uma das informações coletadas pela PF é a de que integrantes da família Bolsonaro se reuniram com os israelenses, por intermédio de Caio, antes mesmo de Jair assumir a Presidência.
PF investiga relações de Carlos com israelenses
Caio era um dos representantes no Brasil da empresa israelense Cognyte, responsável pelo fornecimento do software espião, adquirido durante o governo Michel Temer (MDB) por R$ 5,7 milhões. O filho do ex-ministro de Bolsonaro foi alvo de buscas na Operação Última Milha, deflagrada pela PF em outubro de 2023.
Enquanto Caio foi questionado sobre a relação de Carlos com os israelenses, seu pai foi inquirido a respeito do seu conhecimento sobre a intenção de Bolsonaro em criar uma Abin paralela.
Procurados pela reportagem, Carlos Bolsonaro, Carlos Alberto Santos Cruz e Caio Santo Cruz não quiseram se manifestar.
Os depoimentos do general Santos Cruz e de seu filho ocorreram no mês passado, em Brasília. Os investigadores também abordaram nas oitivas uma fala do ex-ministro de Bolsonaro Gustavo Bebianno, morto em 2020.
Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em março de 2020, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência disse ter ouvido dentro do governo conversas sobre a ideia de Bolsonaro e do seu filho Carlos de criar uma estrutura de inteligência paralela.
“Um belo dia o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela porque ele não confiava na Abin”, afirmou. Bebianno disse na entrevista não saber se a iniciativa de Carlos teria sido implementada ou não. Bolsonaro teria sido orientado a não colocar em prática a ideia do vereador, segundo ele.
Em 29 de janeiro deste ano, Carlos foi alvo de buscas da Operação Última Milha. Segundo a PF, o vereador integrava o núcleo político da chamada Abin paralela e se beneficiava de informações sigilosas da agência, que foi comandada pelo hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ).
A quarta fase da Operação Última Milha, deflagrada em julho de 2024, apontou que integrantes da Abin paralela marcavam Carlos Bolsonaro em publicações falsas contra o senador Alessandro Vieira (MDB-RS).
Segundo os investigadores, Vieira se tornou alvo da Abin paralela depois de pedir a quebra do sigilo fiscal, bancário e telemático de Carlos Bolsonaro na CPI da Covid-19.
A investigação da PF aponta que a estrutura teria sido usada para blindar os filhos do ex-presidente, atacar a credibilidade do sistema eleitoral, produzir desinformação e espionar ilegalmente autoridades, como ministros do STF e senadores da República.
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