Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo
O soldado da Polícia Militar de São Paulo (PM-SP), Marcos de Meira Santos, foi condenado a um ano de prisão em regime aberto pela morte de Mara Oliveira de Lima, de 19 anos. A estudante foi baleada em fevereiro de 2021, na porta de sua casa, no bairro do Campo Limpo, zona sul da capital paulista.
O júri popular aconteceu nesta terça-feira (27/5), no Fórum Criminal da Barra Funda, zona oeste da cidade. Os jurados entenderam que o policial não teve intenção de matar e, por isso, ele foi condenado por homicídio culposo. A pena estabelecida foi de um ano de reclusão em regime aberto.
Contudo, o juiz Anderson Carlos Pontes de Souza converteu a pena em pagamento de indenização no valor de cinco salários-mínimos — o equivalente a R$ 7.590,00, conforme o valor atual — a ser destinado ao filho de Mara, Mattias, que na época da morte da mãe tinha apenas três anos. O magistrado também determinou que o policial poderá recorrer da sentença em liberdade.
Mara levou um tiro no peito e chegou a ser socorrida no Hospital do Campo Limpo, mas não resistiu aos ferimentos.

Flanilda Andrade, com a filha Mara Oliveira, 19, e o neto Mattias (Foto: Arquivo pessoal)
Família contesta versão da PM
À época do crime, Marina Oliveira Cordeiro, irmã mais velha de Mara, relatou à Ponte que presenciou a ação da janela de casa. “Saí da janela e fiquei gritando a minha irmã porque achei estranho ela não entrar em casa. Eu fiquei desesperada, gritando o nome dela. Aí quando eu vi, minha irmã tava sentada, com a mão na barriga. Eu saí correndo e fui chamar a minha mãe. O menino não tava armado, só estava com o celular na mão”, contou.
Segundo o depoimento dado à Polícia Civil pelos PMs Marcos de Meira Santos e Oneilton Alves de Souza, os dois atendiam uma ocorrência quando avistaram um rapaz negro com “volume suspeito na cintura” e decidiram abordá-lo acreditando que ele estivesse armado. Marcos desceu da viatura, e o suspeito teria fugido para um beco, fazendo menção de sacar o objeto da cintura. O PM então efetuou três disparos, um dos quais atingiu Mara.
Marina, no entanto, narrou uma versão diferente dos fatos: “Olhei pela janela, vi os policiais parando o carro, o passageiro desceu e foi na direção desse menino. O menino saiu correndo e o policial atirou. Minha irmã tava sentada na frente de casa. Eu vi o clarão, o barulho e a fumaça”, disse.
A mãe da vítima, Flanilda Oliveira de Andrade, também contestou a versão policial: “Meu marido viu que ele estava com um celular na mão e o policial, por ter interpretado que era uma arma, acabou com a vida da minha filha”, disse, em entrevista concedida à Ponte em fevereiro de 2022.
Na época do crime, Marcos era lotado na 3ª Companhia do 16º Batalhão da Polícia Militar da capital, o segundo mais letal de São Paulo — com 88 mortes atribuídas a seus agentes somente em 2024.
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