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A Região Sul registrou, nas últimas três décadas, aumento de até 30% na precipitação média anual. É o que aponta estudo elaborado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a pedido do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), sobre as mudanças observadas no clima no Brasil. Os dados serviram para a elaboração do Plano Clima.

Os resultados indicam que Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, além de parte dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul registraram aumento nos volumes de chuvas. As anomalias foram observadas em especial entre os anos 2011 a 2020.

No período de referência de três décadas, a média anual era de 1.500 milímetros, mas na década mais recente — 2011 e 2020 –, o volume chegou a 1.660 mm por ano, indicando um aumento entre 10 e 30%, a depender da região.

De acordo com o climatologista e pesquisador, Lincoln Alves, responsável pelo estudo, o acréscimo de 160 mm na média anual indica que a região pode estar mais suscetível a desastres por conta da intensificação das chuvas.

“Eventos como este tendem a ser potencializados com as mudanças climáticas, tornando-se ainda mais intensos e frequentes”, analisa.

Segundo Alves, o aumento de precipitação está associado à ocorrência de eventos extremos de chuva. E o indicador RX5day revela a maior quantidade de chuva registrada em um período consecutivo de cinco dias.

Alves aponta que o índice é útil para identificar tendências de mudanças nos padrões de chuvas extremas, o que é importante para planejar infraestrutura, gestão de riscos de enchentes e inundações.

“Em outras palavras, o índice informa qual foi o pico de chuva mais intenso em um curto período de tempo durante o ano, ajudando a entender quão extremos podem ser os eventos de chuvas em uma determinada região”, explica.

Segundo Alves, a análise do índice indica uma tendência preocupante. Comparando o período de referência com a década mais recente, o estudo identificou aumento de 20mm no índice.

“Esse aumento não é um evento isolado, mas parte de uma tendência mais ampla observada nas últimas décadas, especialmente na região Sul do país. Aumentos na frequência e intensidade desses eventos extremos, como o que estamos vendo agora, exigem uma reavaliação das estratégias de adaptação”, afirma.

Sul aparece em destaque no indicador de precipitação máxima em cinco dias no período entre 2011 e 2020. No gráfico à direita, a linha azul indica o período de referência (1961-1990) e a linha vermelha a década mais recente (2011-2020). Fonte: INPE/MCTI.

Oposto ao Sul

Enquanto parte do país registra aumento nas chuvas, outras regiões revelam tendência de queda na taxa média de precipitação. Áreas do interior do Nordeste até o Sudeste e no Brasil central registraram reduções com variações negativas entre 10% e 40%. A área com redução mais expressiva está indicada no mapa nas cores amarelo e alaranjado.

No período de referência, o valor médio da precipitação acumulada foi de cerca de 1.210 mm. O volume reduziu nas décadas seguintes, baixando para 1.030 mm no período de 2011-2020.

Áreas do interior do Nordeste e norte do Sudeste experimentam redução dos volumes. Mapa de anomalia de precipitação entre 2011 e 2020. Á direita, a linha azul indica  período de 1961 a 1990. Linha vermelha os anos entre 2011 e 2020

Segundo Alves a redução de até 40% na precipitação acumulada em algumas áreas do Brasil é significativa e pode acarretar “uma série de impactos preocupantes”.

“Se essa taxa se mantiver, podemos ver o agravamento do que já estamos acompanhando: secas na Amazônia e um Nordeste ainda mais árido, o que afeta diretamente as populações e os ecossistemas”, avalia.

O pesquisador destaca ainda que a diminuição das chuvas pode resultar em períodos cada vez mais prolongados de seca, o que afeta diretamente a disponibilidade de água para consumo humano, agricultura e atividades industriais. “Pode levar à escassez de alimentos e à perda de renda para os agricultores locais”, afirma.

A escassez de água pode desencadear conflitos pelo acesso dos recursos hídricos, aumento das desigualdades sociais e econômicas e gerar problemas de saúde pública, como aumento de incidência de doenças relacionadas ao acesso limitado à água potável.

Para Alves, a redução das chuvas no Brasil central pode resultar em secas mais severas e frequentes, o que compromete o abastecimento de água para consumo humano e para a agricultura, especialmente na região do Cerrado, que é um importante celeiro agrícola do país.

“A longo prazo, isso pode não apenas afetar a segurança alimentar, mas também elevar os preços dos alimentos e da energia”, avalia.

Adaptação

Alves destaca que as evidências climáticas apontam para a necessidade da integração da gestão de riscos nos planos e políticas. “Isso significa adaptar estratégias em todos os níveis de governo, local, estadual, regional e nacional. Não apenas responder às alterações em curso, mas também preparar as comunidades para desafios futuros”, explica.

As mudanças climáticas observadas em diversas partes do Brasil são parte de um cenário global. O Sexto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) ressalta que a mudança do clima já está afetando extremos de tempo e clima em todas as regiões do planeta.

“Incorporar a resiliência climática em setores como agricultura, infraestrutura e saúde pública é essencial para proteger a economia, os ecossistemas e, acima de tudo, o bem-estar das pessoas”, finaliza.

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