Um mundo em desamor?
A pergunta que não quer se calar.
Em que momento da história nos perdemos em manter vivo o amor, afeto e empatia na reciprocidade?
Vivemos tempos áridos, onde a vida do outro deixou de nos importar.
Ao longo de eras o mundo e a humanidade sofreram mudanças, algumas boas, outras nem tanto — não sou inocente e romântico, não tanto assim, e o que me deixa atônito é esta não corresponsabilidade à vida humana.
O individualismo, egoísmo e este pensar lógico que a humanidade ocidental moderna vem desenvolvendo, vai nos dando um sentimento de não lugar, de não pertencer. É o que sinto. Deve ser por ter nascido em outros tempos e outra cultura em que a coletividade comunal é fator preponderante para uma vida de qualidade.
Não uso muito este termo de “qualidade de vida”, pois me remete a um lugar de desenvolvimento baseado em consumo e bens materiais como solução de nossos problemas.
Buscar amor, afeto e empatia não deveria ser algo alheio ao nosso viver e nossas relações em sociedade.
Ao ver nas redes sociais e em todos os meios de comunicação no planeta, as violências que vão nos atravessando cotidianamente, parece-me que naturalizamos crueldades. As guerras no mundo, principalmente na Palestina e nos complexos do Rio de Janeiro, me tocam como “não amor”.
Não nos importa o que está acontecendo com os povos que sofrem violência e violações de direitos humanos em qualquer parte do mundo.
Por que não nos indignamos? Por que só divulgamos, mas não mudamos as nossas ações? Como se fazer politica e se indignar estivesse balizado por likes nas redes sociais, a partir do que escrevemos em nossos celulares e computadores.
Reconheço que existe uma importância fundamental nestas ferramentas digitais e virtuais, mas está muito virtual, acreditamos que os equipamentos eletrônicos digitais, estão fazendo o nosso dever de luta e de intervenção política e social nestas doenças fabricadas do desamor politico globalizado.
Preocupa-me o mundo que irei deixar para as novas gerações, que massivamente são empurradas para este não apego ao outro, como uma avalanche de neve que desce pelo morro num crescente que vai arrastando tudo e todos, e fingimos não perceber.
Ver as crianças e famílias em Gaza e nos complexos das favelas no Brasil sendo chacinadas, como se esta fosse a vida que eles merecessem, isso me choca e afeta imensamente, não me sentido seguro em nenhum lugar onde estarei.
Onde está o amor?
Talvez alguns dirão o que ora escrevo e pensarão que a questão é mais complexa.
Que análise e reflexão política pode ser mais importante do que as que se elaboram esses fatos e suas complexidades?
Neste final de semana, em minha comunidade de terreiro, falei da importância de ter um lugar para voltar, após ter passado uma temporada viajando, e de como amava poder encontrar os meus, ouvir os cânticos para os orixás, os ritmos, cozinhar em coletividade, saber de como está a vida de cada um individualmente, e de como eles são importantes para nós.
Sentir-se seguro em seu lugar é como uma criança que é aparada pela parteira, nasce em segurança, sente amor e pertencimento. Isso é fundamental para nós, seres humanos, é algo que nos dá alento – pelo menos para alguns.
Mas percebo que muitos não têm mais lugar com amor para voltar, os estados autoritários e suas instituições totalitárias lhes tiraram os seus territórios e zonas de amor.
Os interesses e acordos políticos não se importam com estes sentimentos próprios dos que querem viver à parte deste muro tóxico, construído com o cimento da negação, exclusão e desamor.
Vou encaminhar ao mundo a letra de uma música do Vander Lee, “Românticos”. Talvez, penso com minha inocência, alguns leiam, cantem e se reencantem com esta possibilidade de viver em amor.
Preciso ser utópico, precisamos acreditar que ainda há solução na busca do amor, afeto, empatia e reciprocidade — e encontrá-las.
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