Tem todo um ritual. Ligo a vitrola, agulha no ponto: “Naquela mesa, ´tá faltando ele/ E a saudade dele ´tá doendo em mim”. Nelson Gonçalves solta o vozeirão, interpretando a música de Sérgio Bittencourt — colega de jornalismo também conhecido como o filho de Jacob do Bandolim.
Poxa, 13 anos já, Doutor? E sempre nessa data, puxo aqui o lero-lero, nossa resenha espiritual de 4 de dezembro, para botar em dia a prosa, os pitacos sobre a realidade brasileira, os bafos da política e, como ninguém é de ferro, reabastecer a espuma flutuante da cerveja.
Primeiro, óbvio, sobre o seu Corinthians, Doutor. Rapaz, duas belas novidades: chegou um boleiro holandês, o Memphis Depay, que além de jogar o fino da bola, pegou o espírito “maloqueiro e sofredor” logo de cara. Em vez de aparecer nas boates dos bacanas, já foi até em pagode na favela. Encarnou o corinthianismo como um religioso das antigas. Palmas!
Magrão, se a cartolagem não preza pela decência, a Gaviões da Fiel faz a sua parte. Essa tem espírito da Democracia Corinthiana, saca a jogada: a torcida já arrecadou R$ 25 milhões na “vaquinha” para pagar a dívida da Neo Química Arena na Caixa Econômica Federal. Que doideira. A Gaviões, com quem você tinha uma forte aliança, segue na firmeza.
Sim, Doutor, “aqui na terra vão jogando futebol, tem muito samba, muito choro e rock’n’roll”, mas o que eu quero lhe dizer é que seu amigo Lula tem sido obrigado a ser mais equilibrista e habilidoso do que nunca — enfrenta a chantagem da ciranda financeira, um Congresso reaça e aquela mídia hereditária que joga contra a geral em todas as pelejas.
Ah, como adivinhou, Doutor? O mercado segue nervoso, nervosíssimo, de chilique em chilique, só sossegou, pode crê, diante da fila do osso de Bolsonaro e Paulo Guedes. Agora a chiadeira é contra a medida que isenta o pagamento de Imposto de Renda de quem ganha até cinco mangos.
Magrão, que saudade intergaláctica, rapaz, vamos adotar um esquema de resenha espiritual permanente. Que falta você faz ao nosso botequim e ao país. O França, nosso eterno garçom da Merça, manda lembranças. O bar é que não existe mais, Doutor. Tudo é tédio e prédio na ladeira daquela Vila. Beijos. Até os nossos próximos blues espirituais.
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