Juliana Dal Piva e Igor Mello
Perícia realizada pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio) em dados bancários de Carlos Bolsonaro (PL-RJ) e de seus assessores constatou que o chefe de gabinete do vereador, Jorge Luiz Fernandes, também pagou despesas do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-RJ), de sua esposa Michelle Bolsonaro (PL-DF) e de Rogéria Bolsonaro, mãe de Carlos.
As informações constam em relatório obtido pela coluna com exclusividade. No documento, não foi registrado que Jair Bolsonaro, Michelle ou Rogéria tenham feito depósitos ou transferências de valores semelhantes em datas próximas a esses pagamentos efetuados com dinheiro da conta-corrente do chefe de gabinete de Carlos Bolsonaro.
Os dados foram verificados após a análise de boletos pagos por Fernandes entre 2005 e 2021, período abrangido pela quebra de sigilos fiscal e bancário autorizada pelo TJ-RJ (Tribunal de Justiça do Rio). Diante do grande volume de transações desse tipo, o Laboratório de Combate à Lavagem de Dinheiro e Corrupção do MP-RJ analisou por amostragem esse tipo de movimentação financeira — sorteando aleatoriamente um número de documentos.
Entre os boletos sorteados há dois pagamentos feitos em 2018 em nome de Jair Bolsonaro, mesmo ano em que ele foi eleito presidente da República. Há ainda um pagamento de despesa para Michelle Bolsonaro, em 2019, quando ela já era primeira-dama.
Para Bolsonaro, o chefe de gabinete de Carlos pagou uma fatura de seguro automotivo, no valor de R$ 2.319,92, e uma fatura de uma administradora de imóveis, de R$ 1.131,51. Já a despesa de Michelle foi uma multa de trânsito com custo de R$ 311,48.
Fernandes pagou ainda uma despesa de Rogéria Bolsonaro, mãe de Carlos, no valor de R$ 806,77.
Como nem todos os boletos foram analisados,é possível que outros pagamentos para integrantes da família Bolsonaro também tenham sido realizados no período.
Pagamentos sistemáticos para Carlos Bolsonaro
Como a coluna revelou ontem, na amostragem o MP encontrou ao todo 23 boletos pagos pelo chefe de gabinete em nome de Carlos Bolsonaro e de seus familiares, mostrando que ele sistematicamente arcava com as despesas do chefe. Como a perícia só analisou uma fração dos pagamentos, o valor desembolsado em favor da família Bolsonaro pode ser ainda maior.
O chefe de gabinete é investigado por ser supostamente o operador do esquema de rachadinha de Carlos Bolsonaro. De acordo com a quebra de sigilos, ele recebeu pouco mais de R$ 2 milhões em sua conta de seis outros nomeados por Carlos Bolsonaro na Câmara. Já Carlos Bolsonaro é apontado pelo MP como chefe de uma organização criminosa para a prática dos crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
A prática costuma ser apontada como um indício de lavagem de dinheiro. A coluna tentou contato com a defesa do vereador, mas não obteve retorno.
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