ICL Notícias

Por Gabriel Gomes*

Em janeiro de 2020, após aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), o Magazine Luiza anunciou a compra, por R$ 31 milhões, da Estante Virtual, empresa criada em 2005 e que se consolidou como o mais popular sebo online do Brasil.

Ao longo dos anos, a Estante Virtual se tornou peça fundamental para a sobrevivência de livrarias por todo o país. No entanto, após a venda para a Magalu, o site passou por diversas mudanças em termos de estruturação, layout e na ferramenta de busca, o que impactou diretamente nas vendas de livros.

Após a venda para a Magalu, o site passou por diversas mudanças em termos de estruturação, layout e na ferramenta de busca. (Foto: Reprodução)

Diante disso, livreiros de todo o país, que acumulam reclamações enviadas para a empresa, se reuniram e buscam a criação de uma cooperativa. O projeto é lançar, no início do próximo ano, um site próprio para a venda de livros. Há estudos, ainda, para o lançamento, no meio de 2025, de um aplicativo. O movimento já conta com adeptos em 20 estados.

“Essa ideia já está bastante desenvolvida,  a cooperativa está em últimos ajustes para ser formalizada. O site nunca vai perder o foco da comercialização de livros, nunca vai ser vendido para um marketplace que não tenha interesse na área”, explica Daniel Pedrian, do Sebo Fulô, em Porto Alegre (RS), um dos lideres do movimento.

Sebo Fulô, em Porto Alegre (RS). (Foto: Arquivo Pessoal)

Mudanças no Estante Virtual

Nos últimos anos, após a aquisição da Estante Virtual em 2020, a Magazine Luiza têm realizado uma série de mudanças na plataforma. Desde então, os livreiros relatam problemas como o sumiço de parte do acervo cadastrado no site, dificuldades de clientes com a ferramenta de busca e alterações no layout.

“A Estante Virtual tem muitos anos e, apesar do site relativamente simples, ele funcionava muito bem para o que foi destinado: vender livros, era simples e objetivo. Simplesmente, alguém chegou e resolveu colocar algo mais ‘bonitinho’”, diz Ivan Costa, da livraria Belle Époque, na zona norte do Rio de Janeiro.

Há relatos, ainda, de problemas na migração do acervo de lojas do site antigo para o novo e ausência de campos de informações importantes.

“O interesse da administração do site não é mais o comércio de livros e com isso, a gente perdeu autonomia na organização do acervo e capacidade de negociação sobre as melhores condições. Cada vez mais, se tira autonomia nossa e do cliente de saber o que está comprando. A compra está mais dificultada”, lamenta Daniel Pedrian.

Impacto

As mudanças promovidas pela Magalu causaram, de acordo com relatos dos livreiros, um impacto significativo nas vendas. Em média, a queda no número de livros vendidos pela plataforma é de 60%. Há casos, porém, de perdas de até 80%, como no caso da Belle Époque.

A diminuição drástica nas vendas pela plataforma da Estante Virtual impactaram, ainda, os eventos culturais que acontecem no espaço da livraria localizada na zona norte do Rio de Janeiro. A Belle Époque costuma oferecer rodas de samba e de choro gratuitas, além de oficinas a preços populares.

“Nós estamos no Méier, subúrbio do Rio de Janeiro, tentamos fazer algo maneiro para a população local e essa mudança do Estante Virtual inviabilizou tudo. O que a gente ganha não está dando para manter. Nós estamos batalhando há anos para conseguir esse percentual de vendas e aí, eles vem de um dia para o outro e destroem tudo.”, relata Ivan Costa.

O drama da queda nas vendas no site da Estante Virtual também é sentido pelo livreiro Leocilvio Neves, do Esperança-Sebo, em Salvador, na Bahia.

“A minha profissão é livreiro e eu dependo do dinheiro repassado pela Estante Virtual. Se não houver dinheiro de reserva no caixa, muitas vezes eu não consigo nem enviar mais livros. Depois dessa queda de vendas, eu estou no vermelho”, relata.

Livraria Belle Époque, no Meier, zona norte do Rio

Cooperativa

Com o passar do tempo e o acúmulo de inúmeras reclamações enviadas à Magazine Luiza, proprietária da Estante Virtual, muitos livreiros, impactados diretamente pela queda nas vendas, começaram a se reunir através das redes sociais, formando uma “associação”, como definem.

A partir dos relatos e ideias dos livreiros, o grupo começou a planejar a criação de uma cooperativa. O projeto pretende criar um site e, posteriormente, um aplicativo para a comercialização de livros. “Hoje, essa ideia já está bastante desenvolvida, já estamos com programação acontecendo, a cooperativa já está em últimos ajustes para ser formalizada”, diz Daniel Pedrian.

“A gente está desenvolvendo uma ferramenta de cadastro de livros que seja parecida com o que já temos para aproveitar os catálogos existentes. Nossa estimativa é um site que já comece com 3 milhões de livros.”, completa.

Com as reuniões dos livreiros, muitos passaram, também, a criar uma consciência de grupo. Leocilvio Neves, de Salvador, refletiu sobre a união da classe.

“Antes, eu tinha os outros livreiros como meus concorrentes e hoje, eu os vejo como meus colegas. Através dessa mobilização, nós formamos um grupo excelente, com livreiros do Brasil inteiro. A gente conversa e estamos unidos nessa causa. Não somos concorrentes e sim, parceiros”, diz Leocilvio Neves.

O que diz a Magazine Luiza?

O ICL Notícias procurou a Magazine Luiza e a Estante Virtual para que expliassem o que está acontecendo e, até o fechamento da reportagem, não obteve resposta. O portal foi procurado após a publicação da matéria pela Estante Virtual e o posicionamento da empresa está aqui.

 

 

*Gabriel Gomes é estagiário, sob supervisão de Chico Alves

 

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