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Lenio Streck

Jurista, professor e advogado; doutor em direito; autor de 82 livros e 360 artigos em revistas especializadas.

O mundo filtrado! Revidemos com livros!

E a política virou nisso. Nikolas é o cardápio. Caroline é o QR Code.
13/03/2024 | 09h05

Depois de ver que o deputado Nikolas com K, aquele da peruca loura, foi eleito presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, fico pensando (atenção: Comissão de Educação da Câmara dos Deputados de um país com mais de 200 milhões de almas): onde foi que erramos de verdade? Já sabemos que erramos no varejo; agora também sabemos que erramos no atacado. Veja-se o caso da deputada presidente da Comissão de Constituição e Justiça. A deputada desdenha do Direito. E preside a Comissão? De que modo o governo, com sua bancada, concordou com isso?

Isso tudo é produto de “filterworld”, um mundo filtrado pelas redes sociais.  Nikolas não existiria sem as redes sociais. Sem as redes, seria mais um desses moleques travessos que moram com os pais até os 30 anos.

Há um artigo interessante do jornalista Kyle Chayka, muito bem analisado pela jornalista Cláudia Laitano, do jornal Zero, exatamente chamado “Filterworld: How Algorithms Flattened Culture” (algo como “Mundo filtrado: como os algoritmos achataram a cultura”).

E achataram a política. Tudo começa com a antipolítica. Nikolas e a deputada Caroline são sedizentes outsiders da política. Entraram na onda lavajato-bolsonarista. E deu nisso que está aí. O que seria Zambelli sem o discurso outsider herdado da Lava Jato? A propósito: não basta que Moro e Dallagnol e seus companheiros quebrassem o país. Tinham que afundá-lo na política.

Para Chayka, caminhamos para sermos consumidores passivos de um cardápio criado não para ampliar nossa visão de mundo, mas para reforçar nossas idiossincrasias — mais ou menos como aquele sujeito que se senta no restaurante e aceita, sem questionar muito, a sugestão do garçom que parece conhecer todos os seus hábitos que os algoritmos forneceram de antemão — e até seu estado de ânimo. E a política virou nisso. Nikolas é o cardápio. Caroline é o QR Code.

Eis a tal pós-modernidade. Vai de seca à meca. De intelectuais à rafanalha. Tempos de Tik Tok e quejandices mil. Ao mesmo tempo em que existem coisas boas-interessantes nas redes, há também pessoas querendo desenhar mensagens. Resumir tudo. Compactar.

Essas pessoas se candidatam. E se elegem. E assumem comissões!  Quem vota nessas pessoas? Simples: as que foram filtradas.

Neste mundo fragmentado, poucas pessoas leem textos com mais de quinze linhas. O que fizemos da política? Estamos envergonhando os criadores dessa arte. Que virou uma manipulação. Filtrada.

Somos todos players, como dizem alguns advogados. Players? O mundo virou um jogo? A política virou o quê, então?

Mas tudo tem a ver com o Mundo Filtrado. Chayca e Laitano têm razão.

A solução contra os filtradores é lhes apresentar um livro. É como a cruz para o vampiro. Eles odeiam.

Vejam como se comportam – trata-se de uma alegoria – os simplificadores. Depois de serem vítimas da filtragem pós-moderna, começam a querer se vingar. A charge é autoexplicativa. Vejam o que passo nas redes sociais – alegoricamente. As duas charges me foram ofertadas pelo Gerson, que mora em Porto Alegre.

Minha receita: muitos livros! Livros a mancheias.

Como se reage? Faça como eu: construa um bunker de livros. E uma catapulta. Se for preciso, faça como na charge. Lá estou em meu bunker resistindo ao ataque da choldra.

 

 

 

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