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O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na quarta-feira (12) que a inflação seguirá “desconfortável” para as famílias e para as empresas no curto prazo, e que o indicador também permanecerá fora da meta perseguida pela autoridade monetária.
“Se pegar série histórica e taxa de juros real, estamos num patamar historicamente elevado do ponto de vista de aperto monetário. (…) É um momento desconfortável para as empresas e famílias, que é um momento onde a inflação deve seguir em patamar desconfortável fora da meta, e você espera que a politica monetária faça efeito gradualmente”, disse durante palestra na Casa das Garças, no Rio de Janeiro.
Sem sinalizar os próximos passos da política monetária, Galípolo afirmou que o BC terá cautela ao analisar os sinais de desaceleração emitidos pelos dados recém-divulgados de atividade, como os de mercado de trabalho, inflação e setores econômicos.
Ontem, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou que o volume de serviços no Brasil recuou 0,5% em dezembro de 2024, segundo resultado negativo consecutivo, acumulando perda de 1,9% nos dois últimos meses do ano. Já na comparação com dezembro de 2023, o volume de serviços cresceu 2,4%, nono resultado positivo consecutivo. No acumulado de 2024, o setor fechou com alta de 3,1%, quarto ano seguido de crescimento.
“O Banco Central vai tomar tempo necessário para ter a certeza de que os dados que estão chegando confirmam uma tendência e não uma volatilidade de dados de alta frequência”, disse Galípolo.
Em entrevista a uma rádio do Amapá, o presidente Lula (PT) disse que a inflação “preocupa” o governo. Ele também comentou sobre a política monetária. “Eu tenho certeza que o Gabriel Galípolo vai consertar a taxa de juros neste país e nós só temos que dar a ele o tempo necessário para fazer as coisas”, disse Lula.
Galípolo diz que decisão de baixar taxa Selic deve ser mais cautelosa
Como já havia sido sinalizado, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 1 ponto percentual, para 13,25% ao ano, no mês passado. A ata da reunião indica que outra elevação no mesmo patamar deve acontecer na reunião de março, elevando a taxa para 14,25% ao ano.
Durante a palestra, Galípolo explicou que a autoridade monetária adota posturas diferentes na hora de fazer os ajustes. O BC precisa de muito mais “parcimônia” na hora de baixar os juros do que quando faz ajustes para cima.
Galípolo também comentou que o impulso fiscal acabou sendo maior do que o inicialmente projetado, mesmo com o mesmo nível de gastos públicos que era previsto no início do ano passado. Esse efeito, segundo ele, pode ser explicado por dois fatores principais: primeiro, o crédito; segundo, os programas de transferência de renda.
Com mais dinheiro disponível, famílias com maior propensão ao consumo ajudaram a aquecer a economia. Esse tipo de estímulo, de acordo com Galípolo, gerou uma demanda mais resiliente, contribuindo para pressões inflacionárias.
“Do ponto de vista do fiscal, o impulso foi maior do que se imaginava. Talvez porque existiu um componente distributivo da política da transferência de renda, que acaba colocando dinheiro na mão de quem tem propensão de consumir mais elevada, e isso apresenta uma resiliência maior e um impulso maior do ponto de vista da demanda, que me parece ter sido traduzido nas questões das pressões inflacionárias, somadas à questão de impacto climático e desvalorização da moeda”, analisou.
Leilões do BC
Devido à disparada do dólar no fim do ano passado, que fez com que a moeda ultrapassasse a casa dos R$ 6, o BC realizou leilões da divisa para ajudar a conter a volatilidade da moeda. O montante injetado foi de US$ 32,5 bilhões no mercado de câmbio em dezembro, entre leilões à vista e de linha (este último, com compromisso de recompra futura).
Galípolo acrescentou que as intervenções foram necessárias para dar liquidez à saída de dólares no último mês do ano.
O mercado financeiro atribuiu a alta da moeda à questão fiscal do governo. No entanto, após a posse do presidente dos EUA, Donald Trump, a moeda iniciou uma trajetória de queda. Desde o início, os economistas do ICL (Instituto Conhecimento Liberta) alertavam que a visão dos agentes estava um tanto descolada da realidade (clique aqui para ler a análise).
Trump
Galípolo também comentou o tarifaço anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acrescentando que a autarquia tem ouvido que o Brasil poderia sofrer impacto menor devido à sua inserção menor na correlação com os EUA.
O presidente do BC afirmou que o receio pelo “choque de tarifas” promovido por Trump desde sua vitória eleitoral mudou o cenário que o BC tem assistido.
“Curiosamente, parece que, ao longo de 2025, temos ouvido mais a ideia de que, pelo fato de o Brasil não ter se inserido tão bem do ponto de vista da correlação com a economia norte-americana, talvez o Brasil sofra menos no caso de uma tarifa”, disse.
Em sua última decisão sobre política monetária, o BC incluiu o risco de um cenário mais favorável para a inflação em países emergentes devido aos choques comerciais.
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