A população de Maceió, Alagoas, está apavorada com o que pode acontecer na área em que a Braskem mantinha a exploração de sal-gema. Com a instabilidade geológica causada pelas perfurações, vários bairros que estavam sobre as minas podem literalmente afundar. A Defesa Civil estadual estima que há 72% de chances de que a Mina 18 colapse e venha abaixo.
Por conta da situação, foi decretado estado de emergência na cidade por 180 dias. A área mais afetada foi desocupada por ordem da Justiça e a circulação de embarcações da população está restrita na região da Lagoa Mundaú, no bairro do Mutange, na capital.
O gabinete de crise criado pela prefeitura comunicou aos órgãos de controle e de segurança sobre o perigo do desastre, incluindo os comandos da Marinha e do Exército. Além disso, nove escolas receberam carros-pipa, colchões, alimentação, equipes de saúde, equipes da Guarda Municipal e de assistência social.
O que se espera é que essa estrutura possa dar conta de receber até 5 mil pessoas que moravam nas regiões afetadas.
Em entrevista à rádio Antena 7, o coordenador da Defesa Civil de Alagoas, Moisés Melo, disse que há 72% de chances de que a Mina 18 desmorone. “Teremos um dano ambiental gigantesco. Não sabemos se vai irradiar para outras minas. Trabalhamos com todas as possibilidades”, afirmou Melo.
Pacientes transferidos
Segundo informações do município, 85 pacientes do Hospital Sanatório, que fica em área de risco, foram encaminhados para outras unidades de saúde, entre elas o Hospital Universitário, que também recebeu equipamentos para a hemodiálise de 352 pessoas.
Tremores se intensificam
A Defesa Civil da cidade informou, na quarta-feira (29), que os últimos tremores se intensificaram e houve um agravamento do quadro na região parcialmente desocupada.
“Estudos mostram que há risco iminente de colapso em uma das minas monitoradas. Por precaução e cuidado com as pessoas, reforçamos, mais uma vez, a recomendação de que embarcações e a população evitem transitar na região até nova atualização do órgão”, informa a prefeitura.
E embora dezenas de milhares de pessoas tenham sido retiradas de suas casas desde 2018, devido ao risco de colapso, outras ainda permaneciam em bairros da região. Entre quarta e quinta-feira (30), a Justiça determinou a saída dessas pessoas.
Exploração de sal-gema pela Braskem
Por causa da exploração mineral subterrânea realizada na área, vários bairros tiveram que ser esvaziados em 2018. Rachaduras surgiram nos imóveis da região, seguido de um tremor de terra, criando alto risco de afundamento. Mais de 55 mil pessoas tiveram que deixar as casas e, muitas, ainda esperavam ser indenizadas pela saída à força.
A situação dramática em Maceió rendeu ao caso o apelido de “Chernobyl Alagoana”, em referência ao acidente nuclear na cidade de Chernobyl, no norte da Ucrânia, em abril de 1986, quando a região ainda fazia parte da União Soviética.
Recentemente, a Braskem foi condenada pela Justiça a indenizar o estado de Alagoas por danos causados pela exploração de sal-gema. O sal-gema é uma matéria-prima usada na indústria para obtenção de produtos como cloro, ácido clorídrico, soda cáustica e bicarbonato de sódio.
O que diz a empresa
Em nota, a Braskem diz que monitora a situação da mina e desde a última terça-feira (28) isolou a área de serviço da empresa, onde são executados os trabalhos de preenchimento dos poços. “Os dados atuais de monitoramento demonstram que o movimento do solo permanece concentrado na área dessa mina”, informou.
A empresa diz que também está apoiando a realocação emergencial dos moradores que ainda resistem em permanecer na área de desocupação e segue colaborando com as autoridades.
ICL esteve na região
Recentemente, a jornalista Heloisa Vilela, do ICL, fez uma série de reportagens sobre a ação da mineradora Braskem em Maceió:
- Prefeitura de Maceió vendeu bairros de ‘Chernobyl Alagoana’ a Braskem
- Lira tem ligação com ação da Braskem que gera ‘terremoto’ em Maceió
- Os problemas emocionais causados pela ‘Chernobyl Alagoana’
- Ao menos 12 suicídios são registrados após ‘Chernobyl Alagoana’
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