Por Isabella Menon — Folhapress
A Enel, distribuidora de energia na capital de São Paulo, afirmou na noite desta terça (19) que restabeleceu a energia de todos os clientes afetados pelo apagão no centro da cidade, que começou na manhã da segunda-feira (18).
Porém, moradores de ao menos duas vias na Santa Cecília — as ruas Martim Francisco e Fortunato — afirmam que seguem sem luz. Procurada, a concessionária não respondeu a respeito das reclamações até a publicação desta reportagem.
A Enel calcula que o pico de clientes com queda de energia foi cerca de 38 mil. Pessoas impactadas pela falta de luz não tiveram como trabalhar e estudar. Comerciantes não conseguiram atender e até perderam mercadorias, como no caso de bares e restaurantes.
Durante o dia, a interrupção no fornecimento já causava desabastecimento de água nas residências e descarte de produtos.
Pacientes que tinham consultas, exames e outros procedimentos agendados na Santa Casa de Misericórdia ficaram sem atendimento pela manhã. Eles foram avisados de que, em razão do apagão, o sistema não estava funcionando e os serviços do ambulatório estavam suspensos.
A Santa Casa afirma que os atendimentos ambulatoriais e exames adiados serão remarcados posteriormente, mas os pacientes, em sua maioria do SUS (Sistema Único de Saúde), afirmaram estar decepcionados e apreensivos, sem saber quando vão conseguir uma nova data para atendimento — já que aguardam há meses para se consultar com especialistas.
Vítimas da Enel
Eliane Dezembro, 47, saiu de Rio Claro, no interior de São Paulo, às 3h, para levar o filho Breno, de 11 anos, em consulta com reumatologista pediátrico. Ela tinha dois pedidos de consulta, o mais antigo era de abril de 2023.
“Viemos com van da prefeitura. Chegamos aqui e disseram que está sem sistema desde ontem por falta de energia. Tem um monte de gente lá na mesma situação. Falaram que vão ligar para remarcar. Mas se já sabiam desde ontem por que não ligaram e avisaram? Assim a gente nem vinha”, questiona Eliane.
Maria Pereira dos Santos, 49, também estava na calçada da rua Dr. Cesário Mota Júnior. Ela saiu de Registro, também no interior de SP, acompanhada do marido, para passar em consulta com um oftalmologista em razão de um problema de visão causado pelo diabetes.
“Saímos de lá às 2h. Mas aqui nem deixaram a gente entrar. Só disseram que vão ligar para remarcar. A gente não tem como pagar uma consulta particular, tem que passar por isso. Passar sono, fome”, lamenta.
Além de mudar a rotina de moradores e comerciantes, gerou uma guerra de narrativas entre a Enel e a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) sobre a responsabilidade pelo problema.
Por volta de meio-dia de segunda, a Enel afirmou que a interrupção do fornecimento de energia nos bairros de Higienópolis, Bela Vista, Cerqueira César, Santa Cecília e Vila Buarque se devia a uma ocorrência na rede subterrânea na região de Higienópolis.
O governo federal determinou que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) investigue o apagão e que puna a Enel.
No começo da noite de segunda-feira, a concessionária afirmou que o problema foi causado pela Sabesp, estatal paulista de saneamento, que, segundo a Enel, realizou uma escavação e atingiu acidentalmente cabos da rede subterrânea da distribuidora.
A Sabesp, por sua vez, garantiu que investigou e não encontrou indícios de que sua obra tenha danificado a fiação.
Nesta manhã, em nota, a Enel evitou culpar a Sabesp e afirmou que as duas companhias trabalham em parceria para analisar as causas da interrupção na região central de São Paulo e vão estreitar ainda mais a atuação em conjunto nas intervenções realizadas na área de concessão aprimorando seus protocolos.
A Sabesp reforçou que não foi a responsável pelo problema. “Quando tomou conhecimento do ocorrido, a Sabesp mobilizou imediatamente equipes, que não identificaram relação com o trabalho da companhia”, ressaltou.
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