Por Chico Alves
Enquanto o general Juan José Zuñiga tentava dar um golpe de Estado na Bolívia, usando um grupo de militares para intimidar o presidente Luis Arce, aqui no Brasil um deputado foi às redes sociais para elogiar os golpistas.
“En Bolívia las melancias tienen cojones…” (Na Bolívia as melancias têm coragem), escreveu Ricardo Salles (PL-SP) no X.
O termo “melancia” é a forma como a extrema direita se refere a generais que não aderiram ao golpe do 8/1, considerados comunistas: verdes por fora e vermelhos por dentro.
A resistência do povo boliviano venceu a quartelada, mas a ousadia de Salles não foi esquecida e recebeu muitas críticas dos políticos democratas brasileiros.
A gravidade do fato levou o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) a anunciar que vai pedir à Mesa Diretora da Câmara o afastamento cautelar do parlamentar golpista de seu mandato.
Em entrevista ao ICL Notícias Glauber explicou os motivos da iniciativa.
ICL Notícias — Qual a gravidade dessa manifestação de Ricardo Salles, a favor dos militares golpistas bolivianos?
Glauber Braga — Isso é gravíssimo. A gente não pode naturalizar esse tipo de coisa. A Carla Zambelli depois da campanha eleitoral chamou os generais pra dar um golpe de Estado e não dar posse ao Lula. O resultado disso é que essa turma se sentiu confortável para o 8 de Janeiro.
E agora? Nós vamos continuar fingindo que nada está acontecendo? O sujeito elogia o golpe na Bolívia, os militares que tentaram dar um golpe fracassado na Bolívia e ele tensiona militares brasileiros pra fazer a mesma coisa. E nós vamos fingir que nada está acontecendo? Isso é gravíssimo. Esse sujeito tem que ser afastado imediatamente e responsabilizado pelo que fez.
Quais providências o sr. vai tomar quanto a isso?
Nós estamos na preparação de uma representação, uma notificação, à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados. Eles não votaram o afastamento cautelar de parlamentares que exerçam quebra de decoro e adotem condutas graves? Tem algo mais grave do que você incentivar militares por um golpe militar? Não tem. Então o que nós pretendemos com essa representação é que haja uma ampla mobilização pública pelo afastamento cautelar do senhor Ricardo Salles.
Na gestão de Arthur Lira na presidência da Casa não vemos punições à altura das barbaridades cometidas pelos deputados. O que o faz acreditar que desta vez será diferente?
Lira não vai tomar nenhuma medida se não tiver pressão pública. Quando tem organização, pressão, eles voltam atrás nas medidas retrógradas que eles tentam impor. O exemplo do PL do Estupro é bem evidente. A mobilização das mulheres fez com que ele recuasse nas suas posições.
Essa mesma pressão pública a gente tem que fazer agora pela responsabilização dos golpistas. Então a representação que eu estou dando entrada ela é, na verdade, uma tentativa de que isso seja o primeiro passo. Que a partir daí exista muita mobilização popular para que o Lira seja pressionado a fazer o que deveria ser uma obrigação: responsabilizar quem está tendo ações golpistas.
Com exceção das manifestações contra o PL do Estupro, não vimos a sociedade civil muito mobilizada para ir às ruas no Brasil. Nem depois do 8/1 isso aconteceu. Acha que o golpismo do Salles pode motivar essa mobilização?
Eu acho que tem que mobilizar. Porque se o que acabou de acontecer na Bolívia não servir pra gente como um alerta, daqui a pouco pode ser tarde demais pra gente se mobilizar.
A hora de fazer essa mobilização cobrando responsabilização dos golpistas é agora, é pra já.
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