ICL Notícias
Política

Hugo Motta não levará PL da anistia para reunião de líderes desta semana, afirma líder governista

Decisão sinaliza um movimento de afastamento da nova presidência da Câmara em relação à base bolsonarista
24/04/2025 | 06h02
carregando áudio...
00:00 / 00:00
1x

Por Cleber Lourenço

O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), não incluirá o requerimento de urgência do projeto de anistia na pauta da próxima reunião do colégio de líderes. A informação foi antecipada pelo vice-líder do governo, deputado Rogério Correia (PT-MG), em declaração ao ICL Notícias e reforçada em falas no plenário e em mensagens enviadas a aliados.

Segundo integrantes da base governista, a decisão sinaliza um movimento de afastamento da nova presidência da Câmara em relação à base bolsonarista, que tem pressionado para acelerar a tramitação do projeto. A medida é vista como positiva por parlamentares alinhados ao campo democrático, que consideram a proposta uma tentativa de reescrever os crimes cometidos nos atos golpistas de 8 de janeiro.

Rogério Correia afirmou que o PL e seus aliados “já romperam com a democracia” e que não há qualquer receio por parte do governo quanto a uma eventual ruptura política com o partido. “Nós não temos medo nenhum que eles rompam com quem quer que seja, porque eles já romperam com a democracia”, declarou. Ele acrescentou que o que está em jogo agora é se a presidência da Câmara também se alinhará a esse rompimento ao apoiar “um projeto que é um golpe continuado”.

Durante discurso no plenário, Correia caracterizou o projeto de anistia como parte de uma estratégia duradoura da extrema direita para deslegitimar as instituições e minimizar a gravidade dos ataques à democracia. “Esse projeto de anistia é o projeto do golpe continuado. Querem mexer na lei para continuar tramando golpe”, disse. Ele lembrou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Alexandre de Moraes estiveram entre os alvos de ameaças durante os atos extremistas.

Para Correia, o PL está isolado politicamente na Câmara, e partidos com diferenças ideológicas devem se unir para preservar a institucionalidade. “Essa turma não defende a democracia. A questão deles é fundamentalmente trabalhar para a expectativa golpista. É permanente, uma estratégia contínua do Bolsonaro.” O deputado também comparou a situação brasileira ao avanço do nazismo na Alemanha: “Hitler galgou degraus, achando-se controlável. Essa turma é incontrolável, une ultraliberalismo a autoritarismo de governo e poder.”

anistia

Deputado Rogério Correia (PT-MG)

Correia pede firmeza a Hugo Motta

O apelo de Correia incluiu um chamado direto à presidência da Câmara. “Permitir anistia a esses que tramaram o golpe é dar outro golpe no Brasil. Que o presidente fique firme. Nós estamos com ele pela democracia.”

Embora o requerimento de urgência apresentado por Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) já tenha atingido o número necessário de assinaturas, a votação depende de decisão da presidência da Casa. Nos bastidores, governistas consideram que Hugo Motta adota uma estratégia para se afirmar como figura institucional, buscando se diferenciar da gestão anterior de Arthur Lira, frequentemente acusada de ceder a pressões conjunturais.

O Planalto mantém postura discreta publicamente, mas atua para evitar o avanço do projeto. A expectativa é que o isolamento do PL e a falta de consenso entre partidos do centrão inviabilizem a votação. Caso haja nova tentativa de retomada da proposta, caberá a Hugo Motta decidir se cede à pressão ou reforça seu compromisso com a legalidade democrática.

O ICL Notícias também conversou com o deputado Sóstenes Cavalcanti, líder do PL na Câmara e defensor da pauta. Sobre as afirmações do deputado Rogério Correia de que o tema estaria fora da pauta da reunião de líderes desta semana, o deputado respondeu: “Só se me tirarem da reunião de líderes. Onde eu estiver eu só tenho pauta única: o PL da Anistia”.

Na visão de aliados do governo, a mensagem é clara: apoiar a anistia significa cruzar uma linha vermelha. E quem a cruzar, não poderá alegar neutralidade.

Relacionados

Carregar Comentários

Mais Lidas

Assine nossa newsletter
Receba nossos informativos diretamente em seu e-mail