Por Catarina Duarte — Ponte Jornalismo
O sobrinho do rapper Eduardo Taddeo, do Facção Central, foi morto por um policial militar de folga na noite de domingo (3/11), em São Paulo. O PM alegou que Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, fez menção de estar armado e por isso disparou. Contudo, nenhuma arma foi encontrada com o jovem.
Gabriel tinha ao menos 13 perfurações no corpo, algumas delas no rosto. A família não vê legítima defesa na atuação do policial e diz que, se Gabriel furtou, ele deveria ser preso e não morto. “Tiro no rosto é para matar”, diz Fátima Taddeo, tia do jovem.
O crime ocorreu por volta das 22h, em frente ao mercado OXXO localizado na Avenida Cupecê, no Jardim Prudência, zona sul de São Paulo. A Ponte teve acesso ao boletim de ocorrência registrado no Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).
O boletim diz que o policial Vinicius de Lima Britto fazia compras no OXXO quando presenciou Gabriel “subtraindo mercadorias”. O PM, que contou estar pagando as compras no momento em que viu a ação, teria questionado o jovem sobre o ato. Na versão do agente, Gabriel afirmou estar armado e colocou a mão na blusa “como se estivesse armado”.
Um atendente do OXXO também prestou depoimento. Segundo o relato, Gabriel entrou no mercado encapuzado. O jovem teria ido ao corredor de produtos de limpeza e pego alguns produtos. Ao sair do mercado, ele teria escorregado em alguns papelões que estavam na porta, momento em que foi abordado pelo PM. O funcionário também contou que Gabriel levou a mão dentro do moletom fazendo “menção de estar armado”.
O PM teria atirado contra Gabriel, que saiu em direção à calçada, mas retornou supostamente dizendo “não mexe comigo, que eu estou armado, não quero nada que é seu”, sendo novamente atingido.
O mesmo atendente contou que, mais cedo naquele domingo, Gabriel teria levado caixas de café e bolachas sem pagar, fazendo a mesma menção de estar armado. Ainda conforme o relato do funcionário, Gabriel furtava a unidade com frequência.
O caso foi registrado pelo delegado Osvaldo Farah S. Cunha como resistência, homicídio decorrente de oposição à intervenção policial e roubo. A arma do policial Vinicius, uma Glock .40 da Polícia Militar de São Paulo, foi apreendida, assim como oito estojos — o que indica que foram feitos ao menos oito disparos. Com Gabriel foram apreendidos uma nota de dólar e a carteira dele, que tinha o cartão do SUS e duas fotos.
O boletim de ocorrência menciona que a unidade tinha câmera de segurança, mas as imagens, a cargo da empresa Fast Meniya, não foram fornecidas.
Gabriel morreu no local. Fátima Taddeo conta que o corpo só foi removido na manhã de segunda-feira (4/11). Segundo a tia, o jovem se esforçava para abandonar o vício na droga K. “É uma droga muito difícil. A abstinência é dolorosa”, conta ela.
Fátima argumenta que, sob efeito de drogas, o sobrinho não tinha condições de reagir. “Eles precisaram de oito tiros para ver que o Gabriel não estava armado?”, questiona.
Gabriel completaria 27 anos nesta quinta-feira (7/11). O velório do jovem está sendo realizado no Cemitério Campo Grande, na Vila São Pedro, zona sul da capital.
No Instagram, Eduardo Taddeo gravou um vídeo indignado, lamentando a morte. “Mais um jovem preto, mais um jovem da periferia exterminado por esses filhos da puta. Mais uma vez vai ser absolvido, mais uma vez vai ser legítima defesa”, disse.
O que dizem as autoridades sobre assassinato da PM
A Ponte procurou a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP), o Mercado OXXO e a empresa Fast Meniya, citada no boletim de ocorrência como a responsável pelo sistema de monitoramento da unidade da loja na Avenida Cupecê. Em nota, a SSP-SP afirmou que o policial militar se identificou antes de atirar contra Gabriel:
A Polícia Civil investiga a morte de um suspeito na madrugada desta segunda-feira (4), na avenida Cupecê, zona sul da capital. Um policial militar de folga relatou que estava em um mercado quando viu o suspeito furtando produtos. O policial se identificou, mas o suspeito levou a mão à cintura e disse estar armado. Houve a intervenção e o suspeito foi atingido tendo o óbito constatado no local. A perícia e o IML foram acionados e o caso registrado como resistência, morte decorrente de intervenção policial e tentativa de roubo na Divisão de Homicídios do DHPP, onde é investigado.
Já o OXXO, em nota, lamentou o ocorrido. A rede disse que as imagens do sistema de segurança estão à disposição. “O OXXO pauta suas ações no respeito às pessoas e lamenta profundamente o ocorrido na noite de 03 de novembro, na unidade da avenida Cupecê, entre dois clientes. A rede informa que seus colaboradores acionaram imediatamente as autoridades e que as imagens do sistema de segurança estão à disposição dos órgãos competentes a fim de contribuir com a investigação”, diz o texto.
A Fast Meniya não respondeu. O texto será atualizado caso haja retorno.
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