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Pedro Barciela

Autor no blog Essa Tal Rede Social, estuda e atua na área de monitoramento e análise de redes sociais com foco em política e campanhas eleitorais.

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O ‘dia catastrófico’ do governo federal – e do antibolsonarismo – nas redes

O "dia catastrófico" é apenas mais uma consequência da falta de compreensão sobre o que é o antibolsonarismo nas redes
01/06/2024 | 09h59

Uma conjunção de fatores que ocorreram no dia 28/05 permitiu que o bolsonarismo – enquanto principal cluster da oposição – reivindicasse a autoria do “dia catastrófico” que teria atingido o governo federal e sua articulação no Congresso. Temas como a votação da “saidinha” e a manutenção de veto do ex-presidente Jair Bolsonaro (o “veto 46”) foram os principais destaques deste dia, bem como a “votação relâmpago” da taxação de compras internacionais.

O cenário não apresentou picos de menções como observamos, por exemplo, na tragédia do Rio Grande do Sul. Também não apresentou o engajamento de atores não-polarizados como o registrado em outros momentos do debate sobre a taxação das compras internacionais. Ainda assim, ele reforçou uma hipótese muito importante para avançarmos na compreensão do debate político nas redes sociais: enquanto o bolsonarismo apresentou indícios de mobilização coordenada e objetivos bastante concretos, como a campanha #MantenhaVeto46, não houve qualquer sinal de que o campo governista se preparou da mesma maneira para este embate.

Devemos contextualizar: o bolsonarismo segue sendo o principal cluster ligado por forças ideológicas nas redes sociais, com um volume de atores bem superior ao que poderíamos chamar de cluster governista neste momento. No entanto, apresenta também uma limitação no seu alcance imputada justamente pela força ideológica do bolsonarismo dentro deste agrupamento, limitação essa essencial para entender a formação – e o peso – do antibolsonarismo nas redes sociais.

Diferentemente do bolsonarismo, o antibolsonarismo se faz por laços fracos, não estruturados ideologicamente. Essa “fraqueza” (que também é o potencial deste cluster) exige que ações, mobilizações e campanhas sejam muito melhor estruturadas, planejadas e comunicadas aos usuários. E é essa informação que parece escapar da compreensão de atores ligados ao campo não apenas governista, mas também progressista nas redes sociais e no congresso. No cenário que hoje se desenha, não há qualquer possibilidade de o antibolsonarismo fazer frente ao bolsonarismo nas redes – e ao que parece, também no Congresso – sem uma constante articulação que leve em conta a fragilidade (mas também potencialidades) deste campo formado a partir da repulsa aos temas propostos pelo bolsonarismo.

De maneira geral, precisamos sempre relembrar que o sucesso deste projeto está orientado principalmente pelo seu caráter antibolsonarista, com suas fragilidades e potencialidades impostas. A ausência de uma atenção constante, de uma articulação duradoura e de um empenho de todos os campos que compõe este cluster resultará em novos “dias catastróficos” não apenas para o governo, mas também para todos os usuários que se entendem antibolsonaristas, dentro e fora das redes sociais.

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