Por Julia Chaib, Fabio Serapião e Ranier Bragon — Folhapress
Relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso dos cartões de vacina afirma que a fraude pode ter sido realizada no escopo da tentativa de aplicar um golpe de Estado no país e impedir a posse de Lula (PT).
“O presente eixo [falsificação dos cartões] (…) pode ter sido utilizado pelo grupo para permitir que seus integrantes, após a tentativa inicial de golpe de Estado, pudessem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais requisitos legais para entrada e permanência no exterior (cartão de vacina), aguardando a conclusão dos atos relacionados a nova tentativa de Golpe de Estado que eclodiu no dia 8 de janeiro de 2023″, afirma o relatório.
Bolsonaro, o ex-ajudante de ordens Mauro Cid, o deputado federal Gutemberg Reis (MDB-RJ) e mais 14 pessoas foram indiciadas pela PF no caso que apura a falsificação de certificados de vacinas de Covid-19.
Ainda de acordo com o relatório, Mauro Cid confirmou que as falsificações no cartão de vacina do ex-presidente e no cartão da filha dele, Laura, foram feitas a pedido de Bolsonaro.
“O presidente, após saber que o colaborador possuía os cartões de vacina para si e sua família, solicitou que o colaborador fizesse para ele também”, diz o relatório.
“O ex-presidente deu a ordem para fazer os cartões dele e da sua filha, Laura Bolsonaro. (…) Que o colaborador [Mauro Cid] confirma que pediu os cartões do ex-presidente e sua filha Laura Bolsonaro sob determinação do ex-presidente Jair Bolsonaro e que imprimiu os certificados”.
Também em seus depoimentos, Cid disse que os certificados falsos de vacinação “foram impressos e entregue em mãos ao presidente”.
Bolsonaro nega ter mandado falsificar
No seu depoimento à PF, Bolsonaro confirmou que não foi vacinado, mas negou ter dado ordem para a falsificação.
“Indagado se solicitou a Mauro Cesar Cid que acessasse o aplicativo ConecteSUS e emitisse o certificado com dados falsos de vacinação contra a Covid-19 em nome do declarante, [Bolsonaro] respondeu que não, pois como jamais tomou vacina contra a Covid, não havendo motivo para emissão do referido certificado”, diz o relatório.
Nesta terça-feira (19), em suas redes sociais, o advogado de Bolsonaro, Fábio Wajngarten, reclamou nas redes sociais do que chamou de vazamento da investigação.
“Vazamentos continuam aos montes ou melhor aos litros. É lamentável quando a autoridade usa a imprensa para comunicar ato formal que logicamente deveria ter revestimento técnico e procedimental ao invés de midiático e parcial”, afirmou Wajgarten.
A reportagem procurou a defesa de Cid e o deputado Gutemberg, que ainda não responderam.
Este será o primeiro de três casos que têm Bolsonaro na mira e a PF espera concluir até julho. Além deste, os investigadores apuram a participação do ex-presidente numa trama para tentar dar um golpe de Estado e também o caso sobre joias recebidas da Arábia Saudita.
Essa investigação está vinculada ao inquérito das milícias digitais, que tramita em sigilo no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes. Foi no âmbito deste inquérito que foi feito o acordo de delação premiada do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid.
Em seu relatório, a Polícia Federal fala em práticas criminosas.
“Os elementos de prova obtidos após o cumprimento das medidas cautelares de busca e apreensão nos endereços dos investigados, somados às oitivas realizadas corroboraram as práticas criminosas, demonstrando que os registros de vacinação contra a Covid-19, inseridos nos sistemas do Ministério da Saúde são falsos e foram realizados a pedido e no interesse dos investigados Jair Messias Bolsonaro, Sergio Rocha Cordeiro e Max Guilherme Machado de Moura [dois assessores do então presidente].”
“Em seus termos de declarações prestados à Polícia Federal, Jair Messias Bolsonaro e Max Guilherme Machado de Moura admitiram que não se vacinaram contra a Covid-19 e não estiveram no Centro Municipal de Saúde da Cidade de Duque de Caxias/ RJ nas datas de 22/12/2022, 27/12/2022 e 30/12/2022 [onde teria ocorrido as supostas vacinações]. Sergio Cordeiro exerceu o direito constitucional ao silêncio.”
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