Por Gabriel Gomes, Igor Mello e Juliana Dal Piva
O Supremo Tribunal Federal (STF) interrogou, nesta terça-feira (10), réus do “núcleo 1” da ação que apura a tentativa de golpe de Estado em 2022. O último a depor foi o ex-ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, Walter Braga Netto. Por estar preso, o interrogatório dele foi feito de forma remota.
No depoimento, Braga Netto negou que tenha dado dinheiro para Mauro Cid em uma caixa de vinho financiar o plano golpista. “Cid veio atrás [de mim] e perguntou: ‘General, o PL pode conseguir algum recurso que estamos precisando?’ Na minha cabeça, era alguma coisa a ver com campanha. Virei e falei: ‘Procura o tesoureiro Azevedo’. Ele procurou o Azevedo, deixei para ele, ele veio mais tarde e falou: ‘General, o dinheiro que o Cid está precisando, não temos amparo para dar’. Então falei: ‘Morre o assunto’. E morreu o assunto.”
“Eu nao tinha contato com financiadores. Eu nao tinha como ter dinheiro’, afirmou Braga Netto
No início do depoimento, Braga Netto afirmou que Mauro Cid “faltou com a verdade” em sua delação. Cid afirmou que houve uma reunião na casa de Braga Netto, em 12 de novembro de 2022, para discutir o golpe.
Questionado por Moraes sobre o assunto da reunião, Braga Netto confirmou o encontro e disse que foram tratados “assuntos operacionais, alguma coisa que tinha sido feita, que eu prefiro não comentar”.

Por estar preso, o interrogatório de Braga Netto está sendo feito de forma remota. (Foto: Antonio Augusto/STF)
O general negou qualquer ação para intimidar chefes das Forças Armadas na tentativa de pressioná-los a aderir ao plano de golpe de Estado.
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), o então candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro teria comandado uma onda de ataques a chefes militares que se recusaram a embarcar no golpe. “Jamais ordenei ou coordenei ataques aos chefes militares. Pelo contato que eu tinha com eles, se eu tivesse que falar alguma coisa, eu falaria pessoalmente e não falei”, afirmou o general.
Em uma das mensagens, Braga Netto pede para “oferecer a cabeça” e “sentar o pau” no general Marco Antônio Freire Gomes, então comandante do Exército, e no brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-Aeronáutica, pela falta de adesão deles ao golpe. “Eu não me lembro de ter enviado essa mensagem, eu não me lembro de ter feito essa mensagem.”
Além dessa, o general negou ter enviado, visto ou recebido outras mensagens referentes ao planejamento do golpe de Estado citadas na denúncia da PGR. “Me recordo dessas mensagens que eu vi no inquérito, mas essas mensagens estão fora de contexto, descontextualizadas.”
Além de Braga Netto, prestaram depoimentos o ex-presdiente Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional Augusto Heleno, o ex-ministro da Defesa Paulo Nogueira, o ex-ministro da Casa Civil Walter Braga Netto, e o almirante Almir Garnier, comandante da Marinha no governo de Jair Bolsonaro.
Também foram incluídos no “Núcleo 1” o deputado federal e ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) Alexandre Ramagem e o tenente-coronel e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid, interrogados nesta segunda-feira (9).
STF está na fase da instrução criminal
Ao todo, a PGR denunciou 26 pessoas por envolvimento na trama golpista, que foram divididas em três grupos distintos conforme suas atividades. No caso do núcleo de Bolsonaro, as acusações são:
- Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito
- Tentativa de golpe de Estado
- Participação em organização criminosa armada
- Dano qualificado
- Deterioração de patrimônio tombado
Os interrogatórios fazem parte da etapa de instrução criminal – etapa em que a defesa e a acusação trabalham para a produção de provas. Ao fim das oitivas, as partes deverão apresentar suas alegações finais e o ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, preparará o relatório final para o julgamento.
(Com Brasil de Fato)
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