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Haddad: ‘Aumento da taxa Selic não pode jogar o país em uma recessão’

Em entrevista a uma rádio de Caruaru, ministro da Fazenda falou sobre juros, dólar, preço dos alimentos, déficit fiscal e sobre a "herança maldita" recebida de governos anteriores
07/02/2025 | 10h29
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta sexta-feira (7) que o aumento da taxa básica de juros, a Selic, instrumento usado pelo Banco Central para controlar a inflação, “não pode jogar o país em uma recessão”.

“Depende da hora e depende da dose. Se está tendo um repique inflacionário, precisa corrigir. O remédio é aumentar a taxa de juros para coibir alta de preços, mas isso tem de ser feito da maneira correta, na dose certa. É como antibiótico, não pode tomar a cartela em um dia, não pode tomar nem menos e nem mais. Politica monetária tem que ter sabedoria. Não pode jogar o país em uma recessão”, declarou Haddad em entrevista à rádio Cidade, de Caruaru (PE).

Na semana passada, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central subiu a taxa de juros pela quarta vez seguida, para 13,25% ao ano, e pode subir mais 1 ponto percentual, para 14,25% ao ano, em março.

Com o ajuste, o Brasil passou a ter o maior juro real do mundo, de 9,18% (quando descontada a inflação.

A taxa básica de juros é o instrumento usado pelo Banco Central para desaquecer a economia, que vem registrando desemprego em patamares baixíssimos, renda maior e PIB acima do previsto por analistas.

Com a economia aquecida, a inflação continua sendo um desafio, puxada principalmente pela alta dos preços dos alimentos, que virou o grande foco do governo Lula este ano. Os preços estão sendo puxados principalmente pelas questões climáticas e a alta do dólar, que encarece os insumos usados na agricultura.

Haddad: dólar e safra devem baixar preços dos alimentos

Sobre o tema alimentos, o presidente Lula (PT) sugeriu ontem (6) que a população não deve comprar produtos considerados caros nos supermercados.

Incitado a comentar a fala do petista na entrevista à rádio, Haddad não respondeu. Disse apenas que, mesmo com secas no ano passado, inundação no Rio Grande do Sul e disparada do dólar no fim de 2024, os preços “ainda estão abaixo do que o presidente Lula herdou do presidente Bolsonaro”.

“Vamos continuar tomando medidas de aumentar salário mínimo, corrigir tabela do IR [Imposto de Renda], baixar o dólar, e melhorar a safra para combater os preços altos”, afirmou o ministro.

Ele destacou o impacto do Plano Safra, lançado pelo governo Lula no ano passado. “O Plano Safra do presidente Lula no ano passado foi o maior da história, e vamos colher a safra agora, a partir de março. A safra vai ser recorde, vamos colher como nunca colhemos. Tem o ciclo do boi também, que está no final. Isso tudo vai ajudar a normalizar essa situação”, explicou.

Na abertura dos trabalhos legislativos de 2025, apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) usavam um boné com a frase “Comida barata novamente. Bolsonaro 2026”. No entanto, a inscrição nunca esteve tão longe da verdade. Sob Bolsonaro, a inflação dos alimentos disparou.

Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, de 2019 a 2022 a alta dos preços dos alimentos superou a média geral da inflação em três dos quatro anos e nunca ficou abaixo dos 6%. No último ano do governo dele, o indicador chegou a quase 12%.

Na entrevista à rádio de Pernambuco, Haddad reiterou fala dele de que os preços dos alimentos devem cair nas próximas semanas, impulsionados pela desvalorização do dólar e por uma safra recorde prevista para este ano.

Haddad explicou que a valorização do dólar no final de 2023 teve impacto direto na inflação, mas que essa tendência está se revertendo. “No final do ano passado, tivemos uma ocorrência que foi a eleição do Trump nos Estados Unidos, e isso fez com que o dólar se valorizasse no mundo inteiro. As moedas perderam valor. Agora, se você acompanhar o que está acontecendo, o dólar está perdendo força. Já chegou a R$ 6,30 no ano passado e hoje está na casa dos R$ 5,70 e poucos. Isso também colabora para a redução do preço dos alimentos no médio prazo”, afirmou.

O ministro ressaltou que, como os produtos exportados são precificados em dólar, uma moeda norte-americana mais fraca impacta positivamente os preços internos.

Haddad atribuiu a recente alta dos combustíveis à valorização do dólar e às privatizações realizadas pelo governo de Jair Bolsonaro.

“Depois da eleição do Trump teve uma disparada do dólar. E você sabe que a gente importa gasolina e diesel. Então isso tem reflexo no preço. Agora, de novo, compara com o preço de dois anos atrás. O preço hoje da gasolina e do diesel está mais baixo do que dois anos atrás”, argumentou o ministro.

Haddad também criticou a privatização das refinarias e dos postos de combustíveis da BR Distribuidora, apontando que a venda desses ativos favoreceu a lógica do lucro privado em detrimento do interesse da população. “É óbvio que você tem aumento da produção, ativação das refinarias – as refinarias foram privatizadas pelo Bolsonaro. Você já viu empresário não querer lucrar em cima da população? Quando você privatiza uma refinaria, ela vai gerar lucro para quem comprou. Isso não foi feito pelo governo Lula, foi feito pelo governo anterior”, ressaltou.

Correção de distorções fiscais

Durante a entrevista, Haddad também mencionou os esforços do governo para reequilibrar as contas públicas e reduzir o déficit fiscal. Ele criticou gestões anteriores por concederem isenções fiscais a setores privilegiados, sem a devida compensação para os cofres públicos.

“No ano passado, nós já corrigimos as distorções do déficit público. O déficit acumulado nos dois governos anteriores foi de quase R$ 2 trilhões. A dívida pública subiu muito desde que o presidente Lula deixou a Presidência da República. Então, estamos hoje corrigindo essa questão do déficit público”, disse.

O ministro apontou que, enquanto a faixa de isenção do Imposto de Renda foi ampliada para trabalhadores, o governo também adotou medidas para tributar grandes patrimônios que antes escapavam da cobrança de impostos.

“Havia muito benefício fiscal para empresário rico. Os ricos foram muito favorecidos com isenção de impostos e a gente está corrigindo isso. Quem tinha um fundo em paraíso fiscal não pagava imposto no Brasil. E o governo anterior não teve a coragem de cobrar imposto de quem tinha fundo em paraíso fiscal. O presidente Lula corrigiu isso. Ao mesmo tempo em que aumentava a faixa de isenção do Imposto de Renda, ele cobrava, para compensar, de milionários e bilionários que não pagavam e que estavam com dinheiro fora do Brasil”, concluiu Haddad.

Memória curta da imprensa

O ministro da Fazenda também fez duras críticas à postura do jornalismo, chamando atenção para a “memória curta” de parte da imprensa. Ele argumentou que, apesar das dificuldades econômicas herdadas dos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro, o governo Lula 3 tem tomado medidas significativas para melhorar as condições de vida da população, especialmente no que diz respeito ao salário mínimo e à tributação de itens essenciais.

“Durante o governo Temer e o governo Bolsonaro o salário mínimo ficou congelado por sete anos. E desde que o presidente Lula assumiu, há apenas dois anos, o salário mínimo estava em R$ 1.100 e já foi reajustado para R$ 1.500. Obviamente que você não consegue corrigir sete anos de má administração em dois, mas o presidente Lula, com o compromisso que tem com as pessoas que mais precisam do Estado, já começou uma política de valorização do salário mínimo, sob protesto do pessoal da direita”, disse Haddad.

Haddad ressaltou também as mudanças na tributação, como a reforma tributária que isenta a cesta básica de impostos federais e estaduais a partir de 2027. “Hoje alguns estados, sobretudo no Sudeste, cobram impostos sobre a cesta básica, e nós aprovamos uma reforma tributária para acabar com o ICMS, inclusive da carne, que fica mais cara por causa das cobranças de impostos estaduais”, explicou.

Para Haddad, todas essas ações têm como objetivo melhorar a qualidade de vida da população, especialmente no Nordeste, e refletem o compromisso do governo Lula com as pessoas mais necessitadas. “O presidente Lula tem um compromisso com essa agenda, mas são dois anos apenas que nós geramos três milhões de postos de trabalho”, destacou, enfatizando que o governo já reajustou o salário mínimo acima da inflação por três anos consecutivos.

Além disso, o ministro não deixou de lembrar da postura do governo Bolsonaro. “O governo Bolsonaro não deu um real de aumento do salário mínimo acima da inflação”, afirmou o ministro da Fazenda, sublinhando que aumentar o salário mínimo é uma das formas de garantir que o trabalhador mantenha seu poder de compra.

 

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