Mohana Lessa, filha mais velha do ex-sargento da Polícia Militar Ronnie Lessa, contou que, de modo recorrente, o policial repete sentir medo do deputado federal Chiquinho Brazão e do conselheiro do Tribunal de Contas, Domingos Brazão, e ainda de Rivaldo Barbosa, ex-chefe de Polícia Civil do Rio. Os irmãos foram denunciados por Lessa, em uma colaboração premiada com a PF (Polícia Federal) como mandantes do crime e Barbosa apontado por ter ajudado a planejar a execução.
“Ele (Lessa) demonstra muito medo e diz que os Brazão são muito perigosos. Tanto eles quanto o Rivaldo. Ele tem medo da influência dos irmãos, mas acredita no trabalho da PF tanto em garantir o que foi acordado como na segurança dele”, revela Mohana, de 28 anos, em uma entrevista exclusiva, poucas horas antes do início do Júri Popular no qual Lessa será julgado junto com o ex-policial Élcio de Queiroz pelo assassinato da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.
Mohana diz que o pai queria que a família deixasse o Rio de Janeiro, mas ela, a mãe e o irmão não quiseram. “Estamos tomando nossos próprios cuidados”, contou. A filha contou que Lessa está “ansioso”, mas, diz ela, demonstra um “alívio” por já ter admitido o crime na delação.
A filha de Lessa conta que viu o pai pela última vez na sexta-feira da semana passada e está visitando ele a cada 15 dias na Penitenciária “Dr. Tarcizo Leonce Pinheiro Cintra, no complexo de Tremembé, em São Paulo.
Mohana conversou com a coluna pela primeira vez, em janeiro deste ano, surpreendida com a notícia de que o pai negociava uma delação premiada na qual iria admitir o crime. Até aquele momento, segundo Mohana, ele se dizia inocente para a família e, por isso, ela estava empenhada em provar o que acreditava ser a inocência do pai. Ao saber da delação, Mohana chegou a dizer que romperia com o pai.
“A primeira vez que eu consegui visitá-lo depois da delação ele me pediu perdão. Disse que tinha que mentir na minha cara”, relembra Mohana. “A revolta inicial era muito grande. Nunca vou entender ou aceitar (o crime), mas é uma questão de cuidar da minha saúde mental. Ele sempre vai ser meu pai. Não é a coisa mais confortável do mundo. Olhar os depoimentos dele sempre vai embrulhar o meu estômago, mas como humana, não consigo abandoná-lo. Só não quis mais saber do processo”, explica ela.
Mohana diz que não acompanhará o julgamento do tribunal já que o pai falará por videoconferência. Ela será a única pessoa da família a assistir o link da transmissão para relatar aos demais sobre o julgamento. “Ficaria muito exposta sozinha lá”, diz Mohana. Ela diz que nunca discutiu com o pai os detalhes da delação. “Eu não quis mais saber do processo. Vou ver o júri para completar o processo final”, conta.
A filha do ex-sargento também foi absolvida de um processo que respondia junto com Lessa por tráfico de armas. Ela é formada em Educação Física e vivia nos EUA quando as investigações sobre o crime chegaram ao pai. No início do processo, Mohana retornou ao Brasil para ajudar a família e a defesa de Lessa.
MP pedirá 84 anos de prisão para Lessa e Queiroz
O Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MP-RJ) vai requerer, ao Conselho de Sentença do IV Tribunal do Júri, a condenação máxima para Lessa e Queiroz. O crime ocorreu em março de 2018 e os réus serão julgados a partir desta quarta-feira (30) e podem pegar até 84 anos de prisão. O Júri inicia às 9h.
Os dois foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o Caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA) do por duplo homicídio triplamente qualificados, um homicídio tentado, e pela receptação do Cobalt utilizado no dia do crime, ocorrido em 14 de março de 2018. Ronnie e Élcio foram presos em março de 2019.
O processo que levou à prisão de Lessa e Queiroz tem 13.680 folhas, 68 volumes e 58 anexos. Ambos fizeram delação premiada com a Polícia Federal desde o ano passado para identificar os mandantes do crime. Para o Tribunal do Júri, foram selecionadas 21 pessoas comuns. Deste grupo, sete serão sorteadas na hora para compor, de fato, o júri.
Durante os dias de julgamento, os jurados ficam incomunicáveis e dormem em dependências restritas do Tribunal de Justiça do Rio. Para o julgamento, o MPRJ pretende ouvir sete testemunhas. A acusação contará com os depoimentos da única sobrevivente do atentado, a jornalista Fernanda Chaves, que estava no carro com a vereadora e o motorista, além de familiares das vítimas e dois policiais civis.
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