Com Igor Mello
A Polícia Federal flagrou um encontro entre o presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar (União Brasil-RJ), Kaio Brazão, filho de Domingos Brazão, e o miliciano Robson Calixto Fonseca, o Peixe.
O encontro ocorreu em 27 de março de 2024, apenas três dias depois de Domingos, pai de Kaio, e de seu irmão Chiquinho serem presos sob a acusação de encomendarem o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ).
No mesmo dia em que os irmãos Brazão foram presos, Calixto — PM que atuava como segurança e assessor de Domingos no TCE-RJ — foi alvo de um mandado de busca e apreensão. Ele seria preso por envolvimento no planejamento da execução de Marielle em 9 de maio.
O encontro foi descoberto de forma inusitada: os três se encontraram para tomar café da manhã em um posto de gasolina localizado na frente da residência do presidente da Embratur, Marcelo Freixo (PT-RJ). Sua equipe de segurança desconfiou da movimentação e acionou a PF, com temor de que fosse um gesto para ameaçar o ex-deputado. No mesmo dia, um agente da PF foi ao local e flagrou Bacellar ao lado do filho de Brazão e do miliciano.
Calixto, conhecido como Peixe, foi apontado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) como líder de uma milícia no bairro da Taquara, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio.
Segundo a denúncia do Caso Marielle, ele foi o responsável por cooptar outro miliciano — Edmilson da Silva de Oliveira, o Macalé, chefe de um grupo paramilitar em Oswaldo Cruz — para executar Marielle. Macalé foi quem convidou Ronnie Lessa para cometer o crime.
Os três foram intimados a depor pela PF e, nas oitivas, sustentaram a versão de que a reunião tinha como objetivo discutir o futuro político de Kaio, que é pré-candidato a vereador e estava avaliando se mantinha a pretensão de disputar a eleição deste ano.
O resultado das investigações sobre o encontro foram entregues por meio de relatório da PF ao ministro Alexandre de Moraes, relator do Caso Marielle no STF.
Chama atenção que tanto ele, quanto Bacellar, afirmam que o presidente da Alerj era amigo de Domingos Brazão. Bacellar diz que a relação entre os dois tinha mais de duas décadas e ressalta que havia marcado um almoço com Domingos Brazão no dia de sua prisão:
“QUE é amigo de DOMINGOS e de ALICE KROFF há pelo menos 20 anos; QUE essa amizade começou no início da trajetória política do depoente em Campos dos Goytacazes/RJ, ainda no exercício da vereança de seu pai MARCOS VIEIRA BACELLAR; QUE DOMINGOS lhe mandou mensagens e lhe ligou na noite do dia 23 de março de 2024, véspera de sua prisão; QUE durante a ligação DOMINGOS lhe convidou para almoçar no dia seguinte, o que foi frustrado em razão da deflagração da operação policial”, diz a transcrição do depoimento feita pela PF.
Bacellar menciona ainda “que a presença de PEIXE no encontro lhe causou incômodo”, dando a entender que tinha conhecimento das acusações que pesavam contra o assessor de Brazão àquela altura.
O presidente da Alerj conta que o miliciano pediu que ele intermediasse o destacamento de PMs para fazerem a segurança de Kaio, mas diz ter negado o pedido.
Ajuda com expulsão de Chiquinho Brazão
No mesmo depoimento, Bacelar ainda afirma que tentou reverter a expulsão de Chiquinho do União Brasil, legenda da qual é presidente estadual. O lobby foi feito a pedido de Pedro Brazão (União Brasil-RJ), deputado estadual e irmão de Domingos e Chiquinho, mas não teve sucesso.
“QUE na noite de domingo foi procurado por PEDRO BRAZÃO, 1º Vice Presidente da ALERJ, e o recebeu em sua casa; QUE PEDRO veio acompanhado deoutra irmã de DOMINGOS e CHIQUINHO; QUE PEDRO consultou o depoente acercada possibilidade de intervenção junto ao processo de expulsão de BRAZÃO das fileiras do partido União Brasil; QUE por deferência a PEDRO, entrou em contato com o Presidente da Executiva Nacional ANTONIO DE RUEDA, que lhe informou que tal situação já não tinha mais volta”, completa Bacellar na oitiva.
Kaio Brazão, por sua vez, diz ter agendado o encontro para tratar de sua candidatura a vereador.
“QUE a reunião agendada com o deputado RODRIGO BARCELAR teve o intuito de pedir ajuda a ele de forma partidária para auxiliar o declarante em sua campanha para vereador, já que o deputado RODRIGO BARCELAR é amigo de seu pai, assim como o declarante pediu ajuda também ao EDUARDO CUNHA; QUE o próprio declarante que procurou o RODRIGO BARCELAR, e que ninguém intermediou este encontro; QUE o assunto tratado foi o assunto da sua campanha para vereador, e o RODRIGO BARCELAR nessa ocasião também se solidarizou com a situação da família”, relatou ele.
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